quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Estado Policial imposto pela classe dominante nas áreas pobres é crime de lesa humanidade

Decididamente, as elites dominantes, o Estado, a impren$a e os coniventes com a violência policial não merecem a mansidão do povo que "têm"

Em 1992, um júri em Los Angeles absolveu policiais acusados de espancar, covarde e pesadamente, um cidadão negro chamado Rodney King. A agressão tinha sido filmada do começo ao fim num 'video-amador'. O colossal tumulto que se seguiu durou seis dias, deixando um rastro de destruição e mortes. Na época, o senador democrata e ativista negro Jesse Jackson disse que os tumultos foram “um resultado inevitável dos padrões persistentes de racismo, da brutalidade policial e do desespero econômico sofrido pelos moradores do centro da cidade, um barril de pólvora de frustrações ardentes que acabou por ser desencadeada depois do veredicto”. Houve um novo julgamento e dois policiais foram condenados. Episódios de abuso policial dessa natureza cessaram na cidade.

Cada "sociedade" tem seus níveis de tolerância em relação à arbitrariedade e à selvageria policiais. Aqui a polícia espanca, abusa, tortura e mata pobres de ambos os sexos e muitas idades, todas as cores mas preferencialmente negros, todo dia. Quase que por esporte, mas seguramente por rotina impune e socialmente tolerada. E os pobres suportam isso com desesperada resignação. E a impren$a de negócio noticia isso rápida e burocraticamente. E o seu "público" vira a página, muda o canal, tecla mute. E se há reação, com a única coisa que esses desvalidos têm que são as próprias mãos, eles que não têm nem bispo pra se queixar, aí o mundo acaba.

No país do "e se fosse com a sua filha?" seletivo, ninguém se põe no lugar daqueles pais, irmãos, amigos, amores, vizinhos exaustos de esculacho, de humilhação cotidiana, de contar entes queridos mortos pela polícia simplesmente por estarem no lugar errado na hora errada. Como os que reagiram ao assassinato de Douglas Rodrigues, 17 anos, 3º ano do ensino médio, com mais um "tiro acidental", disparado por um policial contra o seu peito. E a impren$a esquece a vida ceifada e só pensa no patrimônio. Se continuar a chamar de vândalos gente como a que se importou com a morte de Douglas e a liberação do homicida, gente trabalhadora naquela situação de denegação total e permanente de direitos perante a polícia e todo o Estado, vai acabar enobrecendo a palavra e terá de abandoná-la, como já aconteceu com outras. E a "sociedade" conivente vai aumentar o volume em vez de tirá-lo ou mudar de canal.

Na "escala Los Angeles" (um espancamento = seis dias), qual teria sido a intensidade da resposta aos assassinatos de Amarildo e Douglas, dos degolados da Maré, da jovem Amieiro e muitíssimo(a)s outro(a)s cujos nomes acabamos por esquecer aos poucos, tantos são, todos os dias? Decididamente, as elites dominantes, o Estado, a impren$a e os alpinistas sociais coniventes com a violência policial não merecem a mansidão do povo que "têm".(A.Pilatti)

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