segunda-feira, 14 de março de 2011

A saída mal explicada de Muricy Ramalho

Hoje foi mais um dia triste para o futebol brasileiro, que tem atravessado uma crise sem precedentes nos útimos meses. Muricy Ramalho deixou (abandonou?) o fluminense, clube em que trabalhou durante a última temporada, no meio de duas competições importantes e em circunstâncias muito mal explicadas.

Um profissonal da envergadura de Muricy, com uma carreira vitoriosa e consagrado em todo país, deveria no mínimo ter a dignidade de agradecer ao clube publicamente ou então sair calado, pois não é obrigado a dar satisfação a ninguém, aliás sabemos que ele nem gosta disso, vide as inúmeras entrevistas em que trata mal a imprensa, pois declaradamente admite que não tem paciência para as coletivas depois de jogo.
Mas não, no lugar disso, o que vimos foi um Muricy falante, atendendo a todos os jornalistas na maior boa vontade, dando exclusiva pra Globo inclusive, e estranhamente falando muito, sempre além do que era perguntado. Quem não conhecesse poderia até achar que se tratava de um verdadeiro boquirroto.

E foi num desses momentos de incontinência verbal que o treinador falou aquilo que não devia, desrespeitando uma instituilção centenária do futebol do Rio de Janeiro, o fluminense. Para justificar o abandono do barco (como se diz na gíria do futebol), alegou que o motivo de sua saída era a falta de estrutura do clube que, segundo ele, era absurdamente ruim, chegando a dizer inclusive que os jogadores viviam machucados pois se quebravam lá dentro mesmo e driblavam ratos para conseguir treinar, ou algo que o valha.

Agora eu pergunto: Será que o sr. Muricy Ramalho não conhecia a estrutura do clube que se propôs a trabalhar quando assinou o seu contrato milionário? Será que reclamou dessa mesma estrutura de forma tão veemente quando teve nas mãos todos os craques - inclusive internacionais - que pediu ao famoso (e generoso) patrocinador para construir o elenco fortíssimo que ganhou o título nacional? E será que essa mesma estrutura estaria sendo avacalhada como está sendo hoje na imprensa nacional se o time em que ele treina estivesse ganhando sem parar na Libertadores e disputando título no cariocão?

Sinceramente, isso foi um papelão. Mas pra mim papelão maior ainda está sendo feito pela nossa imprensa esportiva (principalmente a paulista). Nada disso é questionado, nada disso é tocado, simplesmente tiram tudo o que ele fala como uma assertiva e passam a trabalhar em cima de suposições, fazendo não jornalismo, mas a defesa escancarada de um profissional que deveria ser tratado com mesmo rigor apurativo que qualquer outro. Pra piorar a imprensa embarcou na onda do treinador e agora exagera até onde pode na questão "falta de estrutura das Laranjeiras", expondo sem o menor pudor e de forma ímpar o clube atual campeão brasileiro. É inacreditável a forma como um profissional, com uma justificativa questionável por qualquer estudante de ensino médio, pautou o trabalho da mídia esportiva brasileira hoje. Quer dizer que bastou ele falar em ratos e buracos num clube tradicional pra vir a tona algo que a imprensa, que está lá todo santíssimo dia não foi capaz de trazer a baila?!

O episódio da demissão de Muricy Ramalho, mais do que um péssimo exemplo para alguém que vive jactando-se de ser um "cara ético", mais do que um desrespeito com uma agremiação centenária que hoje sem mais nem menos foi colocada no centro das discussões de futebol em todo o país de forma negativa, mais do que tudo ele é denunciativo do engrenagem de funcionamento da mídia nacional. Ela escolhe os que quer demonizar, como fez com Dunga na Copa do mundo, e defende com unhas e dentes aqueles que nutre simpatia ou que de alguma forma precisam para manter sua máquina de fazer grana trabalhando.

Muricy Ramalho a partir de de hoje vai pensar duas vezes antes de tratar mal a imprensa como vem tratando. Ela provou que é sem dúvida uma amiga do peito para todos os momentos.

ps: Assina o texto um botafoguense, amante do futebol e indignado com a vergonha em que estão transformando nosso esporte querido.