terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A beleza de ser um eterno aprendiz

Esse ano que se encerra foi, sem dúvida, um dos mais ricos em oportunidades para aprendizados. Tenho pensado muito sobre isso, sobre o aprendizado, a forma como nos portamos diante do mundo, das pessoas, das palavras e das relações. Será que estamos extraindo todo o potencial daquilo que tem sido posto diante de nós, ou será que estamos deixando passar chances incríveis de crescimento pessoal e coletivo?

A velocidade dos dias atuais e a vida social agora compartilhada em rede produzem um novo tipo de angústia e é natural que parte da humanidade esteja fazendo movimentos de re-ligação. Há uma tendência espiritualista moderna fundamentada na produção de sentido. Tudo, ou quase tudo, pode ser explicado; afinal, há um sentido para todas as coisas dessa vida. O universo funcionaria obedecendo a uma 'ordem', segundo leis de atração, onde nós temos o poder de interferir. Assim é o homem desde as cavernas, um ser que não se conforma com o desconhecido e o imponderável, precisa dar conta disso para poder viver em paz.

Porém, eu creio que essa relação de "causalidade e efeito", embora exista, não é exata como tem sido pregado por aí. Acho que é preciso humildade para, pelo menos, cogitar que parte da vida também pode ser uma sucessão de eventos aleatórios sobre os quais não temos controle, muito menos explicação. Por mais desesperador que isso possa parecer, encarar a vida de frente, tentar aceitar que nem tudo será entendido e equacionado é uma prova de maturidade.Mas é pergunta que se impõe é: Como lidar de forma equilibrada com os eventos que incidem sobre as nossas vidas em tempos em que até os mais simples aforismas são reproduzidos e reinterpretados ao bel prazer?

Uma das frases que mais vi ser repetida esse ano foi: “É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz até que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática." Sem dúvida, é linda, mas, retirada do contexto em que Paulo Freire a concebeu, tem sido, a meu ver, mal empregada.É  impossível aqui nessa vida que atinjamos esse nível de perfeição. Para mim, o que vale não é se nossa prática é igualzinha ao que a gente diz, mas sim o esforço que estamos ou não fazendo para que isso aconteça.

Nós não somos o que pensamos, não somos o que dizemos como também não somos o que fazemos. Pelo menos não da forma como tem sido passado.Tudo isso que é dito como verdade absoluta para confortar as pessoas pode gerar o efeito contrário: afastamento, frustração e gente se arvorando o direito de ser juiz da conduta alheia. 

Imaginem se fossemos pensamento, palavra ou ação. Ora, se um dos espíritos mais iluminados que veio a esse planeta, teve seus 'momentos alternados' quem somos nós para não termos os nossos? Onde você viu Jesus? Absorto no deserto com o diabo lhe tentando, pregando lindas palavras no Monte das Oliveiras ou descendo o sarrafo nos mercadores do templo? Acho que precisamos ir com calma.

Pensamento, palavra e ação fazem parte de nós, da estrutura humana demasiada humana - as vezes se misturam, as vezes se confundem, as vezes confundem também os outros. Você pode ver um sujeito levando, contrariado, duzentas bolas num orfanato só pra impressionar a mocinha que começou a namorar, como pode ver a Madre Tereza exortando o feirante que lhe vendeu peixe estragado. A vida é esse jogo de ilusionismo, cheio de sinais trocados, feito para confundir os que julgam pelas aparências, por mais evidentes que essas possam parecer.

Eu acho que não devemos nos penitenciar se não somos “quase perfeitos", os reis da coerência, se não atraímos sempre o que pensamos, ou se não conseguimos dar conta de alguns vazios. Pensamentos ruins virão, falaremos ainda muita besteira, faremos o que não queremos e muitas coisas vão ficar sem explicação. Os eventos podem sempre nos revelar algo, mas acho que isso não pode ser uma finalidade. 
Acho que mais importante nessa vida é estar aberto para reconhecer as nossas contradições e seguir sempre de forma afirmativa. Prefiro pensar que nossos erros e dificuldades não foram feitos para serem abolidos a qualquer custo mas sim para que aprendêssemos, aqui nesse plano, a sermos mais tolerantes uns com os outros e exercitássemos todos os dias o perdão. 

E se seguir aprendendo é o nosso destino aqui nesse planeta, que em 2015 tenhamos serenidade para ouvir menos os apelos do mundo lá fora e mais o nosso coração.