quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Manifestações refletem os contrastes da cidade partida.

Reproduzindo aqui o relato do Guerón, da Eco (UFRJ). Finalmente um relato consciente e honesto, que expõe até onde vai o o limite de sua indignação.  No meio de tanta estupidez, tanta palhaçada dessa pirraça burguesa que temos visto por aí aos montes, esse cara foi sincero e merece todo meu respeito. 

Sou um homem branco, criado com o bom e o melhor, meus pais trabalharam bastante, é fato, mas tiveram todas as oportunidades em termos de condições para terem a formação profissional que quiseram ter, as profissões que escolheram; profissões que lhes dava grande prazer.
Nem eu, nem nenhum dos amigos que cresceram comigo, e nem seus pais, têm a menor ideia do que seja a rotina da polícia invadir os bairros e até as casas, e mesmo quando não mata, submeter às humilhações diárias, palavras estúpidas, tapa na cara... Ninguém, entre os meus parentes, sabe o que é a rotina dos corpos no chão, dos amigos e parentes que morrem.
Por isso existe algo na revolta da Zona Norte de São Paulo que me dá uma sensação de dignidade, de alívio mesmo, ao ver que as pessoas não vão ficar mais na impotência, não estão dispostas a aceitar mais este tipo de coisa. A morte do menino foi uma coisa terrível, mas muitas outras aconteceram e talvez nem tenham sido noticiadas. Mas agora as pessoas estão dizendo: "Acabou, chega, não vamos mais aturar isso!"
Pode parecer absurdo para alguns o que vou dizer, mas quando a polícia age como agiu com esse garoto, quando isso é rotina, revoltas como essas são a única chance que temos de chegar à democracia: disso aqui virar um lugar mais justo pra gente viver.
Não tenho a coragem do pessoal que está lá encarando a repressão nas ruas agora, mas quero que todos saibam que meu coração está com aquela rapaziada, e que a coragem deles faz eu me sentir um pouco mais forte e ter esperanças de dias melhores.
Eu sou solidário à revolta de Jaçanã. 


Como dizia o Hélio Luz, essas pessoas não são violentas. Pra mim são verdadeiros heróis da resistência. Se fossem violentos, como essa elite doente - que manipula ideologicamente governos e as forças de segurança  para impor o Estado Policial nas zonas de inclusão - tenta nos fazer crer, com o tamanho da revolta acumulada que possuem de séculos e séculos de expropriação de direitos e extermínio bárbaro de seus filhos, já teriam posto o Brasil abaixo há muito tempo.

Segue o desabafo de um cidadão sobre a justiça de classe que vigora no Brasil. 

https://www.youtube.com/watch?v=WK9687HUynA



Nenhum comentário:

Postar um comentário