segunda-feira, 24 de junho de 2013

A cidania digital não passará pelo Facebook?

Vale a pena o excelent xo do Nassif

Mark Zuckerberg não me representa!
Corre por aí, nas mesmas rodas suspeitas de sempre, a exaltação da "força das redes sociais" para a mobilização que encheu as ruas de São Paulo na semana passada.

Nada mais falso: a manifestação coxinha "Contra a PEC 37" tinha dezenas de milhares de aderentes no Facebook. Apareceram quatro mil, e provavelmente grande parte deles era de despistados que não sabiam de que se tratava (eu mesmo conheço dois). No Rio, no domingo, apesar de ter sido um grande sucesso de Facebook, a manifestação "Contra a PEC 37" (cansativos, os cansados...) não juntou nem duas mil pessoas.

Não adianta: neste aspecto, não mudou quase nada. As comunicações são talvez um pouco mais rápidas, mas, para pôr cem mil pessoas na rua, como fez o MPL em São Paulo, o que faz falta é gastar muita saliva e muita sola de sapato durante anos. Faz falta o óbvio: uma ligação orgânica com os movimentos sociais reais. Sem isto, nenhum sucesso de Facebook resiste a cair no asfalto.

A exaltação das redes "sociais" interessa à repressão dos movimentos sociais. Ela faz as pessoas acharem que estão "fazendo alguma coisa" quando apertam o botão de um mouse para "curtir" ou "compartilhar" (ô palavrinha nojenta!), quando na verdade só estão movimentando bits de cá pra lá, o que é menos que vento. As redes "sociais" não são o lugar da comunicação, são o aperfeiçoamento do isolamento. Nelas, milhões de indivíduos sem qualquer vínculo com o movimento real que suprime as condições existentes banham-se na ilusão da participação, e permanecem sós. Nada substitui a linguagem corporal, o olho no olho, a cerveja dividida.

Não há milagres. Nada substitui o trabalho real e paciente da velha toupeira.


Eu acho que as redes sociais tiveram importância apenas nas questões logísticas das manifestações, do ponto de vista das mobilizações tenho percebido que a grande imprensa que é a verdadeira responsável pelo grande número de pessoas presentes. Até onde é possível perceber  a Internet não atua como ambiente para ampliar as discussões mas sim como ferramenta para o repasse da pauta dos grandes meios de comunicação. Ainda não existe realmente uma massa pensante na rede mundial de computadores em número suficiente para analisar criticamente as informações, haja visa a grande desinformação em relação aos temas dos protestos que refletem manchetes de jornais e nenhum conhecimento do tema.

A forma como as pessoas utilizam a Internet não traz nenhuma novidade em relação a uma nova maneira de interação política, apenas reforça os mecanismos tradicionais de informação. O analfabetismo digital, conforme e elite costuma argumentar em relação ao analfabetismo funcional, não apenas saber clicar em hiperlinks mas ser capaz de compreender o conteúdo disponibilizado de maneira crítica.



A MÍDIA COMANDA O BOCA A BOCA DIGITAL NA REDE SOCIAL
‘Há, nesse momento, uma direção política, sim, conduzindo os
protestos. E essa condução é dada pela grande mídia. Foi ela quem "capturou" a agenda e fez transitar a pauta principal dos protestos da luta pela redução das passagens à luta abstrata contra a corrupção. A ação política da mídia lançou nas bocas - e nos cartazes - dos manifestantes a PEC 37, cujo conteúdo quase ninguém conhecia até poucos dias. E não há motivos para ilusões: trata-se de um processo organizado. (...) movimentos e organizações que estavam na origem dos atos já identificaram, inclusive, a criação de ‘eventos' no facebook em seus nomes por pessoas completamente estranhas à suas estruturas. Os telejornais selecionam em suas edições cartazes e depoimentos que se referem, exclusivamente, ao tema da corrupção. Uma pesquisa realizada pela Universidade Oxford e publicada no "Scientific Reports", em 2011, analisou os mecanismos por trás das mobilizações políticas realizadas nas redes sociais. A  pesquisa observou que as pessoas recebiam uma quantidade enorme de mensagens, num curto espaço de tempo, gerando uma sensação de urgência, que as levava a aderir aos atos de forma explosiva, num movimento em cascata. É um verdadeiro boca a boca digital. A aprovação dos atos está se contagiando rapidamente (pesquisas já indicam quase 90% de apoio) e a experiência de aprovação de um contagia outros com uma velocidade impressionante. Estima-se que a cada minuto 600 pessoas tenham sido convidadas para o ato em São Paulo na última semana. E o problema é que a mídia é quem está compartilhando e canalizando o sentimento das pessoas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário