"Fora partido", "bolsa-esmola", "fora médicos de fora", corporativismo elitista, o ódio irracional a classe política, a rejeição ao saber popular, o horror as políticas compensatórias de inclusão das minorias, o medo irracional da inflação, o nacionalismo xenófobo e perigoso que emerge ...etc. Todas essas bandeiras reacionárias levantadas pela velha mídia, e o crescente processo de alienação da vida pública nacional, fizeram a cabeça das pessoas e acirraram, nos últimos anos, o chamado ´ódio de classe". Que agora fica evidente.
A pesquisa da antropóloga, relatada abaixo, mostra como essas reivindicações conservadoras podem servir de suporte para grupos fascistas bem organizados sem que as pessoas (inocentes úteis?) nem se deem conta disso. A dona de casa, a filhinha do papai, o jovem descolado e o burguês engravatado na Rio Branco ou na Paulista, ao proferirem os mantras que ouviram durante uma década desde que a nossa mídia avocou pra si a liderança da direita nacional, a partir de agora podem estar assumindo um lado que mais tarde (pelo menos uma boa parte ainda quero acreditar) se arrependeriam muito.
O momento é delicadíssimo. A nação está chacoalhada por todos os lados e sem unidade. De um lado a direita midiático-partidária, somada a uma classe média assombrada que lhes serve de "garganta de aluguel" nas ruas e os grupos fascistas que vão na linha de frente abrindo o caminho com violência; de outro lado, a classe trabalhadora, os movimentos sociais organizados e a periferia das cidades exigindo que sua agenda também seja ouvida e, no meio disso tudo, um governo titubeante que abusou no flerte com o conservadorismo e que agora acusa o golpe do "fogo amigo" de partidos mercenários e ministros traidores que finalmente mostram a sua cara.
O "gigante multi ideologizado" se esfarelou e agora, como em todas as lutas sociais da história da humanidade, só existem dois blocos muito bem definidos. Daqui pra frente, que cada um se informe exaustivamente sobre as bandeiras que irá defender nas ruas, pra saber exatamente o lado do terreno que está pisando. Se eu pudesse diria as pessoas: Ao sair de casa, observe atentamente a direção que tomará. A fase do "contra tudo isso que tá aí" já ficou no passado. A partir de agora, uma vez na rua, mesmo que não saiba, você estará lutando do lado que escolheu lutar. E na vida, como na famosa frase do filme "Onde os fracos não tem vez", é assim: Pra cada escolha, um preço.
O capital está gritando, a disputa pelo poder é, como sabemos, ferocíssima e nesse momento que se abre, passa longe, mas muito longe dos narizes pintados de palhaço. Acabou a inocência e o "mas eu não sabia". No atual cenário, não há mais espaço para "brincar" de ir a rua com o mapa que a Globo preparou nas mãos. É chegada a hora do cidadão que de fato pretende ser ouvido assumir a sua reponsabilidade pelos destinos da nação.
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*Segue um fragmento da entrevista com a antropóloga Adriana Dias e matéria completa da Carta Capital. Nela é possível perceber que a materialização nas ruas da ideologia fascista quando encontra respaldo numa classe média confusa e amedrontada por veículos sensacionalistas pode resultar numa química pronta pra explodir!
"Enquanto agrediam seus alvos, a multidão ao redor aplaudia e gritava “fora partidos, fora partidos”. Para a antropóloga Adriana Dias, que pesquisa há mais de 10 anos a atuação dos movimentos neonazistas no Brasil e já foi diversas vezes ameaçada de morte por seus integrantes, não resta a menor dúvida sobre quem eram esses jovens violentos e quais eram suas motivações.
"Nessas manifestações as pessoas têm ido às ruas para expor suas insatisfações, fazendo reivindicações que não são mensuráveis e de um fundo conservador muito forte"
Carta Capital: Em sua pesquisa, o que mais chamou a atenção?
AD: A quantidade de ódio, a idolatria ao ódio. A ideia de achar que ele estrutura a personalidade. Eu, que tenho uma formação humanista, posso dizer que fiquei chocada com isso. Outro aspecto é a crença na noção de sangue que ultrapassaria a substancialidade.
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