A pele que habito é mais um grande filme de Almodóvar. Um clima de cinema noir, aquele suspense anos sessenta e toda a estética que o envolve, inclusive a trilha, que está perfeita. Pra mim não é o melhor do diretor mas, sem dúvida, é um ótimo filme.
Uma coisa que me chamou muita atenção foi que a ideia central do autor e tudo que gravita em torno, foi exatamente a mesma do arrebatador O segredo dos seus olhos, de J.L. Campanella - na minha opinião o melhor filme da última década!
A grande surpresa do filme argentino é o mote para a trama de Almodóvar. É dali que parte toda a questão da fixação humana, as chamadas “prisões de longa duração”, das loucuras que as pessoas se submetem em torno de uma ausência. Fazer as dores da alma penetrar de forma violenta no corpo foi, talvez, a grande sacada do diretor espanhol.
No seu filme, Almodóvar leva tudo as últimas conseqüências (se não, não seria Almodóvar) , dá uma volta de trezentos e sessenta graus e um toque forte de sensualidade; mas é impossível assisti-lo sem olhar pro que já foi feito. E não me refiro somente as referências estéticas, que estão óbvias, mas insisto na questão da ideia central.
Uma coisa é o filme ser baseado no livro Tarântula, o que é declarado, mas a outra, bem diferente, é a fonte de sua inspiração.
Tropa de Elite, por exemplo, é a transposição do livro do sociólogo Luiz Eduardo Soares para as telas , no entanto, está repleto de referências e citações – desde o seriado Swat, passando por Notícias de uma guerra particular, com "bifes" de Jerry Maguire e uma “churrascaria inteira” do clássico A força do destino, na antológica cena do “pede pra sair!” . Nem por isso deixou de ser um grande filme, vide a sua consagração junto a opinião pública.
Ainda assim, pra ser justo na análise, são coisas diferentes, pois o filme brasileiro não foi buscar inspiração no livro homônimo; apenas ganhou uma versão para a tela grande; enquanto que A pele que habito foi baseado no livro francês, o que não dá garantias nenhuma de que este tenha sido a fonte de sua inspiração.
Não sei se me faço entender, mas o futebol é sempre um bom recurso pra ilustrar. A seleção argentina , na Copa do Mundo de 2006, jogou a fase inicial de maneira arrasadora, num esquema ousado e inovador, com os jogadores girando pelo meio campo sem posicionamento fixo. Poucos meses depois o técnico da Inter de Milão resolveu usar o mesmíssimo esquema com seu time. Perguntado sobre a inevitável semelhança com o modo de jogar da seleção argentina - inclusive a Inter era repleta de argentinos – o treinador disse que foi buscar inspiração na seleção Holandesa de 74, o famoso “carrossel holandês” que virou um clássico inquestionável na história do futebol por ser o primeiro a jogar de semelhante modo. Trinta anos separavam seu argumento, mas, fazer o quê: Apesar da “incrível coincidência”, quem haveria de contestá-lo?
Voltando para o cinema, vejamos a semelhança : Apoderar-se fisicamente de alguém que fez um grande mal a quem você ama, mantendo-a em cativeiro e combater a monstruosidade transformando-se no próprio monstro ( Nietzshe) é o que acontece em Segredo dos seus olhos, mas com a “suavidade” de Compostella.
Apoderar-se fisicamente de alguém que fez um mal a quem você ama, mantendo-a em cativeiro e transformá-la no monstro que você é, na pele que habita, é o que acontece no filme de Almodóvar, com toda a “violência e afetação” que lhes são características.
Bom, como na minha opinião, acho que jamais saberemos , prefiro deixar essa inquietação de lado e ficar apenas com a admiração por esses dois grandes diretores e seus sempre tão bons filmes. E aos fãs fervorosos do gênio espanhol peço sinceras desculpas por dividir essa dúvida que me habita desde quarta-feira ao sair da sala de cinema.
domingo, 6 de novembro de 2011
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