terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A beleza de ser um eterno aprendiz

Esse ano que se encerra foi, sem dúvida, um dos mais ricos em oportunidades para aprendizados. Tenho pensado muito sobre isso, sobre o aprendizado, a forma como nos portamos diante do mundo, das pessoas, das palavras e das relações. Será que estamos extraindo todo o potencial daquilo que tem sido posto diante de nós, ou será que estamos deixando passar chances incríveis de crescimento pessoal e coletivo?

A velocidade dos dias atuais e a vida social agora compartilhada em rede produzem um novo tipo de angústia e é natural que parte da humanidade esteja fazendo movimentos de re-ligação. Há uma tendência espiritualista moderna fundamentada na produção de sentido. Tudo, ou quase tudo, pode ser explicado; afinal, há um sentido para todas as coisas dessa vida. O universo funcionaria obedecendo a uma 'ordem', segundo leis de atração, onde nós temos o poder de interferir. Assim é o homem desde as cavernas, um ser que não se conforma com o desconhecido e o imponderável, precisa dar conta disso para poder viver em paz.

Porém, eu creio que essa relação de "causalidade e efeito", embora exista, não é exata como tem sido pregado por aí. Acho que é preciso humildade para, pelo menos, cogitar que parte da vida também pode ser uma sucessão de eventos aleatórios sobre os quais não temos controle, muito menos explicação. Por mais desesperador que isso possa parecer, encarar a vida de frente, tentar aceitar que nem tudo será entendido e equacionado é uma prova de maturidade.Mas é pergunta que se impõe é: Como lidar de forma equilibrada com os eventos que incidem sobre as nossas vidas em tempos em que até os mais simples aforismas são reproduzidos e reinterpretados ao bel prazer?

Uma das frases que mais vi ser repetida esse ano foi: “É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz até que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática." Sem dúvida, é linda, mas, retirada do contexto em que Paulo Freire a concebeu, tem sido, a meu ver, mal empregada.É  impossível aqui nessa vida que atinjamos esse nível de perfeição. Para mim, o que vale não é se nossa prática é igualzinha ao que a gente diz, mas sim o esforço que estamos ou não fazendo para que isso aconteça.

Nós não somos o que pensamos, não somos o que dizemos como também não somos o que fazemos. Pelo menos não da forma como tem sido passado.Tudo isso que é dito como verdade absoluta para confortar as pessoas pode gerar o efeito contrário: afastamento, frustração e gente se arvorando o direito de ser juiz da conduta alheia. 

Imaginem se fossemos pensamento, palavra ou ação. Ora, se um dos espíritos mais iluminados que veio a esse planeta, teve seus 'momentos alternados' quem somos nós para não termos os nossos? Onde você viu Jesus? Absorto no deserto com o diabo lhe tentando, pregando lindas palavras no Monte das Oliveiras ou descendo o sarrafo nos mercadores do templo? Acho que precisamos ir com calma.

Pensamento, palavra e ação fazem parte de nós, da estrutura humana demasiada humana - as vezes se misturam, as vezes se confundem, as vezes confundem também os outros. Você pode ver um sujeito levando, contrariado, duzentas bolas num orfanato só pra impressionar a mocinha que começou a namorar, como pode ver a Madre Tereza exortando o feirante que lhe vendeu peixe estragado. A vida é esse jogo de ilusionismo, cheio de sinais trocados, feito para confundir os que julgam pelas aparências, por mais evidentes que essas possam parecer.

Eu acho que não devemos nos penitenciar se não somos “quase perfeitos", os reis da coerência, se não atraímos sempre o que pensamos, ou se não conseguimos dar conta de alguns vazios. Pensamentos ruins virão, falaremos ainda muita besteira, faremos o que não queremos e muitas coisas vão ficar sem explicação. Os eventos podem sempre nos revelar algo, mas acho que isso não pode ser uma finalidade. 
Acho que mais importante nessa vida é estar aberto para reconhecer as nossas contradições e seguir sempre de forma afirmativa. Prefiro pensar que nossos erros e dificuldades não foram feitos para serem abolidos a qualquer custo mas sim para que aprendêssemos, aqui nesse plano, a sermos mais tolerantes uns com os outros e exercitássemos todos os dias o perdão. 

E se seguir aprendendo é o nosso destino aqui nesse planeta, que em 2015 tenhamos serenidade para ouvir menos os apelos do mundo lá fora e mais o nosso coração. 



sábado, 25 de outubro de 2014

A hora da reflexão

A vitória nas urnas não exclui uma necessidade imperiosa que já se arrasta há alguns anos: Uma autocrítica profunda dos que estão há mais de uma década no poder. Nas circunstâncias específicas do nosso país, que tem a mídia mais concentrada e uma das mais conservadoras de todo o mundo democrático, era obrigação do governo ter promovido um grande debate nacional sobre o nosso sistema de comunicações. Chamar a juventude, a classe média formadora de opinião, estabelecer canais de mediação e mobilizar as bases sociais progressistas.

Mas não, o governo foi refém (sem espernear) de uma governabilidade estúpida; se deixou aprisionar nos braços pesados do conservadorismo. E, nesse ponto, nenhuma diferença para o tucanato - as mesmas alianças, as mesmas raposas velhas, a mesma timidez em áreas centrais, como a Reforma Agrária, por exemplo. Deixou sim a desejar acima de tudo na comunicação com o povo brasileiro. O governo deixou a informação que chega a classe média consumidora de notícias nas mãos de uma mídia desonesta e cheia de interesses.

A juventude, por exemplo, embora aqui reconhecendo os avanços do Prouni e do Pronatec, foi deixada de lado em seus sonhos atualíssimos -como a questão ambiental -, demandas de um mundo novo que não foram contempladas. Ela quer mais, ela olha pra frente. É natural que os mais jovens (e os muitos que se politizaram, de um tempo pra cá, nas redes sociais) sejam imediatistas, não tenham a dimensão processual da atividade política. Não é tão claro, ou mesmo relevante para essa parcela da população, se as instituições vem se fortalecendo gradativamente, se o emprego subiu, se hoje tem mais comida na mesa do trabalhador, se temos uma economia mais robusta e menos vulnerável a crises, se o Brasil caminha para erradicar a miséria, etc. Tem uma garotada que sequer sabe o que é recessão, não enxerga a corrupção como sistêmica, não viu criança raquítica estampando capas semanais de jornais de grande circulação.

E, mais a mais, é natural que jovem seja oposição, só mesmo uma mente muito tacanha para não ver isso. Os jovens de classe média, em sua repulsa ao governo, estão sendo jovens - estendo aqui tb ao cidadão comum que tem sim todo direito de estar de saco cheio de um jogo que não muda. Estão sofrendo a angustia das grandes cidades, da empreiteragem, da falta de mobilidade urbana, etc_e se retroalimentando, as vzs sem nem perceber, de um ódio difuso (potencializado pela mídia) nas redes sociais.

Portanto, querer agora que o cidadão, em pleno embate eleitoral disputadíssimo, estabelecesse por si só uma reflexão sofisticada capaz de conectar a sua vida diária a realidade nacional e jogar isso numa perspectiva histórica é, no mínimo, desconhecer a tradição individualista e imediatista do brasileiro. Se a opinião pública, hoje, deixou de ser "pública" para ser "publicada", se não consegue dar dois passos além da padronização editorial de uma mídia desavergonhadamente interessada isso é sintomático. Em diversas áreas o governo terá que ser mais ousado sob pena de ver ruir suas principais conquistas; mas a maior dívida do Partido dos Trabalhadores - que seguirei firme cobrando - é reverter de forma radical o processo de despolitização da sociedade, que a fez chegar nesse nível de desgaste, e sobre o qual tem responsabilidade direta.


Assim como a violência, a paz é uma construção coletiva.

O processo eleitoral de 2014 ficará marcado como o mais agressivo da História da nossa democracia. É fato que o brasileiro não está muito acostumado a discussão política - refiro-me a discussão que vai além da questão político-partidária, mas que diz respeito à vida coletiva. Somos um povo individualista e que sofre por anos, fruto de uma educação herdeira da ditadura militar, da atrofia da capacidade reflexiva. Temos que levar em conta tb que essa é a primeira eleição depois do boom das redes sociais, ferramenta que estamos ainda aprendendo a lidar. Ou seja, é tudo muito recente, natural que gere excitação mesmo. Some-se a isso a mídia, que forma opinião de uma forma tendenciosa, estimulando a agressividade, e temos essa bomba pronta pra explodir!

Mas, ainda assim, no meio de toda essa loucura  surgiu a possibilidade de se discutir temas como redução da maioridade penal, banco central independente, papel dos bancos públicos, reformas de todas as sortes, etc. Considero esse exercício coletivo muito positivo mas não há dúvida que a discussão precisa ser, no mínimo, mais civilizada. Não tô nem falando em conteúdo, apenas me atendo a questão relacional. Como o movimento de desagregação foi coletivo eu proponho aqui também um 'vôo' na direção inversa, que possamos sugerir maneiras de se relacionar de forma não-violenta.

A abordagem da disputa política pra se dar de forma ética e respeitosa deve, a meu ver, concentrar-se na análise nos candidatos, partidos, instituições.. Os homens públicos e as instituições, estão aí para isso, para serem avaliados pelo cidadão. É possível ser incisivo, botar dedos nas feridas, usar o humor, observar até movimentos mais reacionários ou xiitas de parcelas do eleitorado (que de fato estão aí) sem generalizar e sem ser violento.

Não tenho dúvidas que, assim como a violência, a paz tb  pode ser uma construção coletiva.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O que estamos vendo emergir entre nós tem um outro nome.

Primeiro foi o Roger a agredir covardemente Marcelo Rubens Paiva; perdeu em argumentos e, de forma desumana, zombou do seu pai, torturado e assassinado na ditadura militar. Depois, o dia de ontem. Esse fenômeno dos ataques raivosos, da política feita de forma figadal, o da monstruosidade que não encontra mais nenhum limite, é algo novo que emergiu no país não tem muito tempo.
Eu tava pra falar nisso, acho que esse é o momento: Penso que confundir essa imundice que está aí com o pensamento liberal-conservador, é um erro gravíssimo e um enorme preconceito que se comete. (vale lembrar que boa parte do ditos progressistas volta e meia mostram tb a sua falta de escrúpulos, usando até Hitler de forma indiscriminada) Embora os vestais que se portam socialmente dessa forma abjeta estejam sim mais inclinados a direita, fazer essa distinção, nesse momento, é fundamental para uma convivência salutar e democrática de opiniões. Precisamos separar de uma vez por todas ideologia política de “doença espiritual”. O pensamento liberal de sociopatia avançada. Creio que o momento de luto nacional seja oportuno.
O pensamento liberal, conservador, da Escola de Friedman, teve aqui no Brasil seus representantes como Bulhões, Campos, Simonsen, por exemplo. Embora tenham sido gurus dos militares e levado o Brasil, a época, a um dos países mais desiguais do mundo, eram pensadores sérios, gente que merecia ser respeitada, como faço questão de registar merecem todo o respeito as pessoas de pensamento conservador consistente. Eu conheço algumas que respeito profundamente e nutro admiração pela trajetória de vida familiar e profissional.
Mas, infelizmente não posso dizer o mesmo do que sobrou hoje em dia. A direita brasileira, aos mais jovens, principalmente, sobrou hoje um só guru: chama-se Olavo de Carvalho. Como muito bem disse o jornalista Paulo Nogueira, ele é, hoje, uma espécie de chefe de seita para a essa “nova direita”, uma garotada (alguns já mais crescidos) que não tem tempo para se informar, e que é quase doutrinada a fazer política na base de enfurecimento e de ataques ferozes. Olavo de Carvalho está muito longe de ser um notável como Roberto Campos, trata-se de um fundamentalista que remete aos pregadores evangélicos mais exaltados que tem por aí. Essa figura foi feita para o novo “analfabeto político” , um tipo de seguidor que se informa de manchetes, que quer certezas rápidas pois precisa emitir opinião sobre aquele assunto, mesmo que deixe a todos chocados -pouco importa - a ideia é gerar o caos e se valer no meio da gritaria. É nessa levada que surgiram as suas crias: Pondé, Villa, Gentille, Lobão, Magnoli, Mainardi, Constantino, Roger e por aí vai...
Então, como disse um amigo, isso que estamos vendo hoje em dia, NÃO é o pensamento liberal, isso é outra coisa; isso não é sequer o pensamento ultra-conservador que, rejeite-se ou não, tem uma coerência, uma visão militarizada da vida social. Faço questão de falar isso, pelo respeito as visões ideológicas divergentes, por uma convivência mais cordial; não é justo que a direita seja tratada como se fosse um bloco monolítico, quando não é. Existe ainda o pensamento de matriz liberal, pessoas conservadoras com um discurso consistente, algumas merecem respeito por sua erudição, inteligência e capacidade analítica. Mas há também esses que citei aí, gente cuja ideologia é somente atacar, ladrar, xingar sem nenhum escrúpulo ou critério, espalhar o ódio, atiçar as pessoas e recrutar sua legião de psicopatas. A esses, como Roger, eu abomino.



terça-feira, 1 de julho de 2014

Copa traz a tona velha discussão sobre futebol arte

"Eu acho inacreditável que, em pleno ano 2014, ainda haja esse pensamento antiquado que pensa o futebol como um espetáculo circense. O futebol não tem essa finalidade, é um esporte, praticado por atletas, não tem que agradar os olhos de jornalistas saudosos e nem a obrigação de fazer alegria do torcedor que quer ver um show. O futebol, como qualquer outro esporte, é um jogo feito pra vencer e ponto. Pergunte aos jogadores lá dentro, pergunte aos treinadores se eles trabalham nessa perspectiva. Principalmente num torneio de 'tiro curto' como a Copa do Mundo. 


Há  um senso comum, gerado pela mídia esportiva, que acostumou o torcedor a tratar uma partida de futebol como se trata uma obra de arte. Jogou "bem", jogou "mal", o futebol tá "bonito", ou tá "feio", etc. O que tem que ser levado em conta antes de mais nada, numa equipe de futebol que vai disputar uma competição é:

- A organização tática. A forma como esse time se posta em campo. O padrão de jogo da equipe. Você precisa olhar pro time e enxergar um modo de jogar, um estilo, alguma forma de organização mínima. Isso faz com o que o time tenha a segurança necessária para impor seu jogo em campo. 

-A regularidade. Não basta ter uma forma e um padrão mínimo definido é preciso botar pra rodar, ter sequência, ir tomando corpo.

-  A compactação. É na aproximação das linhas que se diminui a vulnerabilidade. Um time compactado, como bem observou Veríssimo sobre a França, não deixa espaços, não deixa o famoso "queijo suíço " entre meio campo, defesa e ataque. Só uma equipe coesa tem condições de fazer a bola girar, ou mesmo de organizar contra-ataques. De nada adianta "matar a bola sete",  se não souber também observar onde está "caindo a bola branca". Isso tudo precisa estar muito bem afinado ali no campo. 

Depois do preparo físico e psicológico, essas três coisas são básicas, para  se dizer: Esse time está minimamente pronto para competir. Pode perder aqui, se recuperar depois, sacudir a roseira acolá, mas será sempre o mesmo, oscilará muito pouco.. Pode ter um craque, não ter, jogar com dois, três zagueiros, sem centroavante, tanto faz, o que importa é que está organizado e tem condições mínimas de pleitear o seu objetivo máximo. O resto , por mais importante que seja também, vem na sequência.

A seleção brasileira não tem nada disso. Ela simplesmente não tem a espinha dorsal de uma equipe de futebol. É isso que precisa ser analisado, é essa a crítica o resto é torcida, palpite e esparrelas dos eternos corneteiros e  "analistas do depois" .

Eu digo isso, pois acho incrível observar como os argumentos sobre o destino da seleção brasileira já vão começando a tomar corpo na grande mídia. As justificativas da vitória e da derrota já estão prontas. A da vitória vai pelo caminho de que não tem nenhuma seleção muito acima da média e o Brasil, mesmo jogando um futebol pro gasto, pode chegar lá. A da derrota, é essa que o treinador já começa a sutilmente(ou seria espertamente?) a vender, que o fator emocional pesou sobremaneira numa equipe de "meninos".

Tudo não passa de um grande teatro, de uma grande bobagem. Acho que o Brasil pode sim chegar lá; embora a essa altura dificilmente vá achar algum jogo, mas pode funcionar, na base da retranca, pois tem boa defesa, tem um craque que pode decidir, ou mesmo no improviso ali do momento,; no futebol meu amigo, nunca é bom desprezar nada.

Por isso, a crítica não deve ser em cima da possibilidade ou não de se chegar ao  título, mas sim da preparação que ofereça a devida segurança no caminho. A preparação da seleção brasileira de futebol é um desastre. É ela que deve ser questionada.

ps: Se o Brasil for campeão jogando a sua bola dessa forma até o final - salvo pela trave, pelo gongo, ou por tudo o mais que não seja sujo-  terá sim os méritos de um campeão mesmo que não tenha sido devidamente preparado por quem teve essa responsabilidade. 



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Copa do Mundo e os mitos que ainda persistem


O dinheiro investido nos estádios poderia ser investido na educação?

Não. Esta é uma frase folclórica, um slogan repetido por aí há meses sem o menor sentido. O dinheiro para educação é da monta de quase três vezes do total investido no evento inteiro. Uma verba não tem nada, absolutamente nada a ver com a outra.

Infelizmente, o argumento desconhece a natureza e os labirintos de um orçamento público e da previsão orçamentária nacional. Só que é repetido incessantemente por gente de boa fé, alguns inocentes-úteis , mas tb por muita cobra-criada que sabe como a coisa funciona, mas se faz de desentendida pra ver o circo pegar fogo.

Aí entra o papel das velha mídia e dos arautos do caos. Como as oposições midiáticas e partidárias não podem expor o seu programa verdadeiro, o que lhes resta é apostar no caos, numa catástrofe que arrebente o país por dentro e internacionalmente. Nada melhor do que a Copa. Nada melhor do que o fracasso da Copa. Assim, nada melhor do que a violência durante a Copa.

Os arautos na mídia dizem que são contra, que não pregam a violência. De fato: não pregam. Mas chamam. Esperam. São ardilosos, provocam incitam até onde podem o reacionarismo na classe média, depois que o saco de neguinho explode e reage nas ruas, aí eles se fazem de democratas e pacíficos, criminalizam e entregam black blocs  e sininhos de bandeja pra sociedade linchar a vontade. Se conseguíssemos perceber só uma parte do movimento das mentes que comandam os meios de comunicação no Brasil, certamente seríamos cidadãos  menos manipuláveis.

Outro dia,, na entrevista de um black bloc no  Estadão, um deles dizia que ‘foram abandonados pelo Movimento Passe Livre’. Desculpa mas só dando muita risada disso. Caramba, não é justamente o contrário?! A presença deles é que esvazia as manifestações, e até as impede, como já  aconteceu com  a manifestação suspensa dos motoristas e cobradores no Rio de Janeiro, e dos professores ano passado.

Já falei o que penso, protesto é justo e legítimo. Tenho protestado contra a corrupção na Fifa há mais de dois anos, indo para as ruas, apoiando os moradores da Vila Autódromo, ao lado dos moradores da Adeia, do Horto e tudo que esteja envolvido na lógica das remoções do capital na cidade. Mas é bom que saiba bem o que se quer, que se tenha informação para não se deixar tomar pelo ódio e a violência como método  e não como justa defesa de um movimento popular organizado.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Não, você não é melhor do que ninguém, não do que esse homem, isso eu garanto.

Eu queria dizer aquelas pessoas que tenho visto por aí atacarem de forma estúpida Philip Seymour Hoffman, o ator extraordinário encontrado morto em sua casa, no domingo, que procurem olhar mais a si mesmas, observar mais as suas vidas, antes de falar de alguém e do que leva uma pessoa a fazer isso ou aquilo consigo mesma.

A morte por overdose de heroína é algo terrível, nos deixa perplexos pois o desfecho é mesmo assombroso. Mas, por favor, não vamos nos esquecer que estamos falando de um ser humano de um talento fenomenal, que em suas atuações arrebatadoras já elevou  a almas de milhares de pessoas mundo afora, como o enfermeiro de Magnólia, ao se fazer, com extrema delicadeza, de "ponte" para o perdão entre pai e filho.

Não, você não é melhor do que ninguém, não do que esse homem, isso eu garanto. Chega de hipocrisia.

Você que hoje só consegue rir de verdade depois de algumas doses de álcool e, sem se dar conta, foi perdendo aos poucos o cheiro e o sabor das coisas boas dessa vida.

Você que não passa um dia sem umas boas tragadas no cigarro, cujo nível de dependência física é o mesmo da droga de escolha de Phil, que além do mal que causa a si mesmo as vzs tb colabora para provocar mal em terceiros, já que o fumo passivo é uma das maiores causas de morte no mundo.

Você que não resiste ao consumo de produtos que nem deseja mais, saiba que sua oniomania tb é um distúrbio.

Você que só consegue ter prazer numa conversa quando está envolvendo terceiros e fazendo futrica.  Não há droga mais pesada para o espírito humano do que a maledicência.

Você que ataca políticos e PMs com todo seu ódio,  mas que, atolado em suas pequenas corrupções diárias, é incapaz de ver a parte que lhe cabe nesse desmando social que vivemos.

Você que elege seus heróis e seus bandidos fabricados pelos meios de comunicação, que não tem o mínimo cuidado com aquilo que professa e divulga e leva uma vida desapegada da justiça, saiba que pior do que viver no engano, é colaborar para levar outras pessoas para o mesmo lugar.

Você escravo da vaidade cuidado, overdose de si mesmo tb mata, pois nada mais angustiante e definhador do espírito do que tentar preencher um vazio de alma com aquilo que não somos.

 Eu, com meus vícios de conduta que afetam aqueles que me amam, questões recorrentes que atrapalham minhas relações com as pessoas, meus eventuais descontroles e outras coisas, muitas das quais sequer imagino...

Não somos melhores do que ninguém, pelo menos não do que esse homem. Enquanto estivermos nesse corpo, nesse planeta, podemos até fazer um outro movimento em direção a nos tornarmos seres um pouco mais limpos de todas essas "drogas", e tb mais conscientes;  mas creio que sempre teremos algo de nós preso a 'alguma pedra na estrada', pra gente nunca se esquecer de quem somos. E não julgarmos ninguém.

Ninguém é melhor do que ninguém, ninguém. Daquela líder política defensora do verde, que prega o novo  mas se alia aos velhos coronéis que tanto criticou, do presidente de côrte que a cada dia mostra parecer  ter as mesmas práticas que condena, do jovem "bem-nascido" que faz justiça pelas próprias mãos mas que dirige bêbado colocando a vida de inocentes em risco; dos líderes espirituais das mais belas palavras, desde os que manipulam pessoas pobres com seus dízimos, os que impedem o desenvolvimento da ciência e jogam contra a vida humana até o mais dócil dos seres, que prega a simplicidade mas permite que lhe beijem os pés.

Se olharmos mais para dentro de nós mesmos, talvez não sejamos mais tão agressivos com todos os alvos fáceis que essa rede social nos oferece diariamente pra bater, talvez sejamos mais tolerantes com as diferenças e os 'pecados' alheios, possivelmente nos desintoxicaremos das porcarias que nos consomem e certamente seremos mais confiantes a ponto de não colocar nossa felicidade em nada nem ninguém nesse mundo.

Descanse em paz, Phil!


Uma pequena homenagem a Eduardo Coutinho

Republicando post de 2011 (Sobre o documentário "As canções")

O novo documentário de Eduardo Coutinho ( de Edifício Master) é um espetáculo pra se aplaudir de pé! E é exatamente isso o que o cinema faz, ao final da sessão. Aplausos e lágrimas. Nesse filme não há paisagem, fotografia ou retrato de nada..O cenário é o palco, a cadeira, o sujeito;  a imagem é pra dentro, pra dentro daquelas vidas, daquelas pessoas cheias de história tão comuns e ao mesmo tempo tão singulares.

Um mergulho profundo que damos dentro de almas tarimbadas pelos anos e pelas vicissitudes da vida -  almas cheias de vida, vidas cheias de tudo que se possa imaginar, e as canções (de cada um, a cada maneira) estão ali, como uma espécie de trilha sonora do tempo e do "filme" de cada "personagem".

Impressionante ver o que Coutinho consegue arrancar das pessoas.  Que talento pra disparar emoção de forma simples e deixar as coisas fluirem, por conta de cada um, que parece dar ali muito mais do que o diretor necessita.

E claro não dá pra deixar de falar no poder mágico e transformador da música. Seja no trabalho, no carro, no banheiro, ou atravessando a rua assobiando uma canção...Como dizia Bob Marley: "É o sopro de Deus na vida do homem!"

É esse o tipo de justiçamento que queremos? O que estamos nos tornando em pleno séc XXI, bárbaros medievais? É isso??!

"A mentalidade reaça de muita gente abastada provoca um prazer doente e grosseiro com a imagem do negro pobre favelado no pelourinho improvisado. Uma sociedade que tortura grande parte da sua população, justamente a destinada aos serviços mais pesados e necessários - mas que não garante alimentação, moradia, atendimento médico, escola de verdade, cidadania, informação,... - não tem moral pra punir os criminosos que ela mesma cria, com a miséria em oceano à volta de bolhas de luxo e classes médias apavoradas e isoladas em seus condomínios, atrás de cercas eletrificadas, de guaritas e segurança particular. Cegos em sua visão primária, raivosa e terrorista, não querem justiça social, não querem os direitos básicos da maioria atendidos, não querem um ensino de qualidade, nem cidadania para todos - o que desejam é vingança, tortura, como se a criminalidade se produzisse por conta própria. A velha prática de culpar as vítimas, sem perceber que elas agem da mesma forma que o Estado age com elas, desde o nascimento. Cegueira classista de quem não admite enxergar a realidade como ela é, por pura conveniência de seus interesses mesquinhos, egoístas, de sua alienação voluntária - daí o ódio sem limites.Esta cena deprimente aconteceu no Flamengo, sábado. Uma demonstração do que é a nossa sociedade, um sintoma da guerra social subterrânea criada pra manter tudo como está, ou seja, um punhado de podres de ricos por cima de tudo, e o resto existindo em sua função, iludidos com promessas de consumos impossíveis e desfrutes improváveis pra maioria. (Eduardo Marinho)

Compartilho da indignação do amigo



Precisamos falar sobre Dilma

O mundo carece disso.  A cultura da simplicidade é vital no combate ao grande mal de nossos dias: a desigualdade. O oposto dela – o culto da opulência e do consumo conspícuo – acaba levando a uma corrida frenética para ver quem tem mais dinheiro, e a raiz de iniquidade reside aí.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Após assistir a Lixo Extraordinário, uma certeza:

Não é aqui o lugar. Tem algo muito maior...

OAB: Joaquim Barbosa tem as mesmas práticas que condena

"Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ex-presidente da instituição, Wadih Damous, muitas coisas que ele faz deveriam ser consideradas condenáveis, mas, por se tratar do ministro Joaquim Barbosa, se tornam aceitáveis Para Wadih, o ministro foi endeusado pela imprensa e pela sociedade, o que torna ações como essa admissíveis aos olhos da opinião pública. O magistrado ainda traça um paralelo, ilustrando como o pagamento de diárias seria encarado se o beneficiado fosse o senador Renan Calheiros.

"Vou fazer um paralelo para você: vamos imaginar que esse caso estivesse acontecendo com o senador Renan Calheiros. Seria manchete de todos os jornais, de todos os editoriais, seria um escândalo nacional. Como se trata do ministro Joaquim Barbosa, tudo é permitido. Quase não sai uma nota de rodapé, os colunistas evitam tratar desse assunto. É tão grave quanto o Renan Calheiros cortar cabelo com dinheiro público", exemplifica Damous.
O jurista também condena a criação de "verdades absolutas" sobre autoridades como Joaquim Barbosa, que ganhou notoriedade e admiração exacerbadas após ser relator do mensalão. "Está se criando no Brasil, sobretudo por conta do processo do mensalão, verdades absolutas, em que algumas pessoas e autoridades são blindadas e praticam as mesmas mazelas que dizem perseguir, que dizem estar ali para punir. O Joaquim Barbosa é uma delas, tornou-se uma delas. A qualquer ato dele, é tratado como 'homem do povo'"

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Marina desagrega e deseduca

Muito boa as considerações de Erundina  (PSB) sobre a líder da Rede . Marina, com seu discurso confuso,  cai na vala comum daqueles que odeiam a atividade política, tudo o que a mídia tradicional tenta fazer diariamente com a cabeça de seus seguidores. Os puristas, aqueles que mesmo sendo incessantemente alertados acreditaram na sua envergadura moral, acabaram percebendo que no fundo Marina não passa de uma moralista, uma figura contraditória e em alguns momentos até estranha. E já pularam desse barco.  A líder “verde”, apontou todos os dedos que podia para a classe a qual pertence, para, no final das contas, se aliar aos velhos coronéis do Nordeste e jogar o interesse dos empresários e banqueiros.

Enfim, a Marina que surgirá na campanha, virá agora mais maquiada do que nunca, para conseguir convencer seu eleitorado restante. A minha previsão é que não vai ser difícil. O público pra quem ela fala, agora, tem (regra geral) um perfil muito definido de comprar sem pestanejar o que a velha mídia empurra. São os que idolatram Barbosa e apedrejam Genoíno. Os que acreditam em santos e demônios, mas não veem que, em se tratando de política, isso não existe.

O que existe são cidadãos conscientes, que cobram dos seus representantes e sabem muito bem o jogo que é jogado ali. Criticam, apoiam e até pressionam; e,  no lugar do  linchamento fácil, preferem olhar primeiro para suas condutas.  


Mujica: Um homem a frente do seu tempo

Cada vez mais popular tanto nas redes sociais como na mídia tradicional, o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, arrisca-se a sofrer um processo de diluição de imagem semelhante ao que atingiu Nelson Mandela. Aos poucos, cultua-se o mito, esvaziado de sentidos — e se esquecem suas ideias e batalhas. Por isso, vale ler o diálogo que Pepe manteve, no final do ano passado, com o jornalista catalão Antoni Traveria. Publicada no site argentino El Puercoespína entrevista revela um presidente que vai muito além do simpático bonachão que despreza cerimônias e luxos.

Todo o falatório em torno de PIB de 1% ou de 2% nada significa diante da queda do desemprego a apenas 4,6%

domingo, 5 de janeiro de 2014