A vitória nas urnas não exclui uma necessidade imperiosa que já se arrasta há alguns anos: Uma autocrítica profunda dos que estão há mais de uma década no poder. Nas circunstâncias específicas do nosso país, que tem a mídia mais concentrada e uma das mais conservadoras de todo o mundo democrático, era obrigação do governo ter promovido um grande debate nacional sobre o nosso sistema de comunicações. Chamar a juventude, a classe média formadora de opinião, estabelecer canais de mediação e mobilizar as bases sociais progressistas.
Mas não, o governo foi refém (sem espernear) de uma governabilidade estúpida; se deixou aprisionar nos braços pesados do conservadorismo. E, nesse ponto, nenhuma diferença para o tucanato - as mesmas alianças, as mesmas raposas velhas, a mesma timidez em áreas centrais, como a Reforma Agrária, por exemplo. Deixou sim a desejar acima de tudo na comunicação com o povo brasileiro. O governo deixou a informação que chega a classe média consumidora de notícias nas mãos de uma mídia desonesta e cheia de interesses.
A juventude, por exemplo, embora aqui reconhecendo os avanços do Prouni e do Pronatec, foi deixada de lado em seus sonhos atualíssimos -como a questão ambiental -, demandas de um mundo novo que não foram contempladas. Ela quer mais, ela olha pra frente. É natural que os mais jovens (e os muitos que se politizaram, de um tempo pra cá, nas redes sociais) sejam imediatistas, não tenham a dimensão processual da atividade política. Não é tão claro, ou mesmo relevante para essa parcela da população, se as instituições vem se fortalecendo gradativamente, se o emprego subiu, se hoje tem mais comida na mesa do trabalhador, se temos uma economia mais robusta e menos vulnerável a crises, se o Brasil caminha para erradicar a miséria, etc. Tem uma garotada que sequer sabe o que é recessão, não enxerga a corrupção como sistêmica, não viu criança raquítica estampando capas semanais de jornais de grande circulação.
E, mais a mais, é natural que jovem seja oposição, só mesmo uma mente muito tacanha para não ver isso. Os jovens de classe média, em sua repulsa ao governo, estão sendo jovens - estendo aqui tb ao cidadão comum que tem sim todo direito de estar de saco cheio de um jogo que não muda. Estão sofrendo a angustia das grandes cidades, da empreiteragem, da falta de mobilidade urbana, etc_e se retroalimentando, as vzs sem nem perceber, de um ódio difuso (potencializado pela mídia) nas redes sociais.
Portanto, querer agora que o cidadão, em pleno embate eleitoral disputadíssimo, estabelecesse por si só uma reflexão sofisticada capaz de conectar a sua vida diária a realidade nacional e jogar isso numa perspectiva histórica é, no mínimo, desconhecer a tradição individualista e imediatista do brasileiro. Se a opinião pública, hoje, deixou de ser "pública" para ser "publicada", se não consegue dar dois passos além da padronização editorial de uma mídia desavergonhadamente interessada isso é sintomático. Em diversas áreas o governo terá que ser mais ousado sob pena de ver ruir suas principais conquistas; mas a maior dívida do Partido dos Trabalhadores - que seguirei firme cobrando - é reverter de forma radical o processo de despolitização da sociedade, que a fez chegar nesse nível de desgaste, e sobre o qual tem responsabilidade direta.
sábado, 25 de outubro de 2014
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