Antes de destacar os pontos principais desse documento
histórico, queria fazer umas considerações. É inegável e salta aos olhos de
qualquer cidadão com o mínimo de capacidade analítica e sensibilidade social, o
que aconteceu no nosso país nos últimos 10 anos. O Brasil cresceu, distribuiu
renda, aumentou o poder do salário mínimo, gerou milhares de empregos e saiu - com políticas econômicas e sociais
acertadas - do abismo inexorável para o qual estava caminhando nos anos de recessão e desemprego que o neoliberalismo do governo anterior estava
nos levando. Quanto a isso já escrevi diversos posts nesse espaço.
A partir de 2002, vivemos num novo Brasil. Um país mais
justo, com milhares de pessoas sendo incorporadas a vida social minimamente
digna, com crianças deixando de morrer de fome, com uma economia mais sólida,
aliançados com nossos vizinhos da AL e respeitados lá fora; isso é um fato,
reconhecido hoje até pela mídia oposicionista.
Mas, por outro lado, não posso deixar de perceber que o
lulismo, cuja lógica maior se deu através da intervenção radical na mudança de
rumo da máquina governamental, está prestes a se esgotar. A contribuição do
Partido dos Trabalhadores para o destino
do nosso país, relegado por quase 500 anos a sorte de uma elite predatória, que
sempre governou apenas para si própria,
foi dada e estará marcada indelevelmente nos livros de história.
Mas creio que é chegada a hora de um novo passo, uma nova
lógica de governança, um novo horizonte precisa se abrir para além da inclusão
social e, paralelamente a isso, uma nova forma de fazer política urge em nosso
país.
O episódio do chamado "mensalão" fecha um ciclo, que ao meu ver, deve ser
aproveitado pelo partido para fazer uma profunda revisão e , acima de tudo, uma
autocrítica com relação aos caminhos, antes inevitáveis , que teve que trilhar.
E por que eu digo “antes”? Porque, naquele momento, não havia alternativa ao PT
recém chegado ao poder que não o de se aliançar as velhas raposas do cenário
político nacional, e jogar o único jogo
a ser jogado dentro desse sistema podre que virou o presidencialismo de
coalizão brasileiro.
Era aquilo que se dispunha pela frente pelas vias democráticas
possíveis, ou então dar uma banana para os velhos coronéis e os demais
gangsters do nosso cenário político, governar com as bases e o povo, como fez
Chávez na Venezuela. Mas aí eu convido você a uma reflexão honesta agora: Se
governando com Sarneys, Renans e Jeffersons da vida, sem incomodar os
banqueiros e sem mexer na estrutura fundiária desse país, já se causou um
alvoroço desses na “Casa-grande”, imagine se o PT resolve chegar lá e ser o
velho PT de sempre, radical, isolado e amarrado na bandeira vermelha terror dos generais e da
direita desse país?
A resposta é essa mesma que você está pensando: Não
completaria nem um ano no poder. Seria defenestrado pela elite nacional com
toda a força e por todos os meios de que sempre dispuseram: Na mídia, nas
instituições jurídicas e, quando necessário, até nos quartéis. É isso mesmo, a nossas elite é tão
egoísta, o nosso país é tão desigual e de mentalidade ainda escravocrata que o
pensamento dos eternos donos do poder, que não suportam sequer dividir os
“seus” aeroportos, é o mesmo revelado certa feita pelo senador do DEM, Jorge
Bonhausen que disse em tribuna que o "Brasil tinha mais é que se livrar dessa
raça pelos próximos 20 anos."
Bom, mas voltando ao que dizia, acredito firmemente que o
momento agora é outro. O PT já está no poder há uma década, com ampla aprovação
popular e caminhando para sua quarta vitória nas urnas! Nesse tempo, logrou um capital político
suficiente para começar a se livrar, pelo menos aos poucos, de certas figuras
indesejáveis. Hoje, gente da estirpe de um corrupto rasteiro como Roberto
Jefferson, não pode mais ditar as cartas nesse jogo de barganha obsceno dos
subterrâneos da política. Vejam agora o enorme prejuízo que foi ter
aceitado participar de um esquema nacional para pagar caixa 2 a essa gente. E
pouco importa se é uma praxe do nosso sistema, pouco importa se isso é feito
até no PSOL do puríssimo Chico. A diferença é que a sobra de campanha lá vai
pra alimentar a “ralé” e não para uma raposa de altíssima periculosidade como o
ex-presidente do PTB. Dar dinheiro pras galinhas e ser descoberto, é só ir
mandar elas cacarejarem noutro
galinheiro, mas pra raposa não, a raposa, cai atirando, e aí deu no que estamos
vendo hoje.
E tudo que a nossa mídia queria era uma história mirabolante
como essa, não importa que tenha vindo da boca de um mitômano incurável dos tempos do "Povo na Tv",
envolvido em escândalos e mais escândalos de corrupção, o que importava era
“tirar a raça de lá a qualquer custo”, mobilizando a opinião pública diuturnamente e
interferindo até no ego e na suprema vaidade de déspotas togados.
O partido agora tem a obrigação de fazer uma profunda
revisão para iniciar um novo ciclo na sua trajetória de poder. O lulismo, ao
meu ver, conforme diagnosticado pelo André Singer, está saturado. O Brasil
precisa de mais. Precisa caminhar sobre outras bases. Estamos prestes a erradicar a miséria
extrema, os programas de transferência de renda ainda precisam fazer a roda
girar, mas não é só o nosso sistema político que precisa ser reformado, o nosso
quadro social começa a apresentar preocupantes sinais de esgotamento. A
inclusão de brasileiros no mercado, o acesso a cidadania via consumo, foi
extremamente necessário, mas já começa a cobrar seu preço.
É preciso investir em Educação urgente, aliás é preciso uma
revolução educacional nesse país para que lá na frente não lamentemos uma crise
de valores tamanha que pode comprometer não só a vida nas cidades e no campo,
mas o meio ambiente, as famílias e todo nosso organismo social. O brasil
precisa dar um salto civilizatório, sob pena de deixarmos milhares de
brasileiros a mercê dos parâmetros fúteis e vazios de uma elite ignorante, consumista e preconceituosa.
E enquanto a mídia empresarial e a direita partidária sabotam a Reforma Política para continuarem lucrando com a corrupção e fazendo a classe média acreditar no seu discurso moralista-udenista, é possível sim fazer diferente,
deixando aquelas velhas práticas para trás e inaugurando um novo momento. Sair
do lado dos caciques do PMDB e, de mãos dadas com o povo que sempre esteve junto
em todas as horas, buscar apoio na imensa população trabalhadora desse país,
que acredita nesse projeto e sente a melhora da vida na pele, caminhar com
o povo do campo promovendo a Reforma Agrária e chamando os movimentos sociais
para o centro da agenda política. É assim que tem que governar um partido da envergadura do PT, a hora é agora !
A direita brasileira jamais perdoará a chegada de intrusos
no poder, jamais. Que esse episódio, com
a prisão de dois líderes gigantescos da esquerda, José Dirceu e José Genuíno, dois homens que contribuíram decisivamente para que hoje vivamos numa democracia, sirva de lição para o futuro.
Um Brasil ainda melhor está surgindo. Eu acredito!
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