Tudo
que eu tenho tentado dizer há anos aqui nesse espaço, de forma desconexa e as vezes até
caótica, o autor explica com brilhantismo e, no final, ainda me faz mudar um pouco meu ponto de vista.
Esse excelente artigo, de forma absolutamente genial, usa a falácia
da Meritocracia para entender a classe média brasileira .O que estaria por trás do ethos meritocrático da nossa
classe média? O que há de errado com a
meritocracia, como pode ela tornar alguém reacionário? Ou melhor, tornar uma
classe social inteira reacionária, como aconteceu aqui no Brasil nos últimos anos?
Esse artigo mostra detalhadamente porque a meritocracia é um
fundamento perverso de organização social que a classe média brasileira comprou
sem pestanejar e agora já colhe os fruto indigesto de se olhar no espelho e ver aquele
vizinho reacionário que tanto rejeitava.
Abaixo, apenas algumas partes, mas esse texto, quase obrigatório, deve ser lido na íntegra.
A
primeira vez que ouvi a Marilena Chauí bradar contra a classe média, chamá-la
de fascista, violenta e ignorante, (uma aberração) tive a reação que
provavelmente a maioria teve: fiquei perplexo e tendi a rejeitar a tese quase
impulsivamente. Afinal, além de pertencer a ela, aprendi a saudar a classe
média. Não dá para pensar em um país menos desigual sem uma classe média forte
[..]
A minha
resposta, então, ao enigma da classe média brasileira aqui colocado, começava então
a se desvelar: é que boa parte dela é reacionária porque é meritocrática; ou
seja, a meritocracia está na base de sua ideologia conservadora.[...]
Assim, boa parte da classe média é contra as cotas nas
universidades, pois a etnia ou a condição social não são critérios de mérito; é
contra o Bolsa-Família, pois ganhar dinheiro sem trabalhar além de um demérito
desestimula o esforço produtivo; quer mais prisões e penas mais duras porque
meritocracia também significa o contrário, pagar caro pela falta de mérito;
reclama do pagamento de impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não
pode ser apropriado por um Governo que não produz, muito menos ser distribuído
em serviços para aqueles deserdados sociais que
não são produtivos e não geram impostos. É contra os políticos porque em
uma sociedade racional, a técnica, e não a política, deveria ser a base de
todas as decisões: então, deveríamos ter bons gestores e não políticos. Tudo
uma questão de mérito. [...]
A meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade
humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho.
O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção
subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a
meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de
valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de
processos objetivos de avaliação [...]
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