segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O melhor texto que li nos últimos tempos

Tudo que eu tenho tentado dizer há anos aqui nesse espaço, de forma desconexa e as vezes até caótica, o autor explica com brilhantismo e, no final, ainda me faz mudar um pouco meu ponto de vista. 

Esse excelente artigo, de forma absolutamente genial, usa a falácia da Meritocracia para entender a classe média brasileira .O que estaria por trás do ethos meritocrático da nossa classe média? O  que há de errado com a meritocracia, como pode ela tornar alguém reacionário? Ou melhor, tornar uma classe social inteira reacionária, como aconteceu aqui no Brasil nos últimos anos?

Esse artigo mostra detalhadamente porque a meritocracia é um fundamento perverso de organização social que a classe média brasileira comprou sem pestanejar e agora já colhe os fruto indigesto de se olhar no espelho e ver aquele vizinho reacionário que tanto rejeitava.

Abaixo, apenas algumas partes, mas esse texto, quase obrigatório, deve ser lido na íntegra.

A primeira vez que ouvi a Marilena Chauí bradar contra a classe média, chamá-la de fascista, violenta e ignorante, (uma aberração) tive a reação que provavelmente a maioria teve: fiquei perplexo e tendi a rejeitar a tese quase impulsivamente. Afinal, além de pertencer a ela, aprendi a saudar a classe média. Não dá para pensar em um país menos desigual sem uma classe média forte [..]
A minha resposta, então, ao enigma da classe média brasileira aqui colocado, começava então a se desvelar: é que boa parte dela é reacionária porque é meritocrática; ou seja, a meritocracia está na base de sua ideologia conservadora.[...]

Assim, boa parte da classe média é contra as cotas nas universidades, pois a etnia ou a condição social não são critérios de mérito; é contra o Bolsa-Família, pois ganhar dinheiro sem trabalhar além de um demérito desestimula o esforço produtivo; quer mais prisões e penas mais duras porque meritocracia também significa o contrário, pagar caro pela falta de mérito; reclama do pagamento de impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não pode ser apropriado por um Governo que não produz, muito menos ser distribuído em serviços para aqueles deserdados sociais que  não são produtivos e não geram impostos. É contra os políticos porque em uma sociedade racional, a técnica, e não a política, deveria ser a base de todas as decisões: então, deveríamos ter bons gestores e não políticos. Tudo uma questão de mérito. [...]

A meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de processos objetivos de avaliação [...]


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