O excelente documentário de Vladimir Carvalho faz enorme justiça ao movimento das bandas de rock nacional surgido em Brasília no finalzinho dos anos 70. Há tempos que essa geração estava merecendo o devido reconhecimento do verdadeiro lugar que ocupa na música brasileira.
Quem for ao cinema terá ainda uma boa oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a formação história, política e cultural da capital federal, através dos depoimentos desses jovens roqueiros filhos da revolução e de professores, diplomatas e intelectuais, primeiros moradores da cidade.
O autor fez um documentário honesto, sem floreios, sem (ou com muito pouca) indução, condução forjada, como tantos que vemos por aí..Frio, seco, duro, cinza - como a Brasília da época – mas com uma pulsação poética em altíssima potência!
Algumas coisas, a meu ver, são ali confirmadas, mesmo que ás vezes nas entrelinhas, nas frestas das expressões e falas dos protagonistas daquele momento fantástico do rock brasileiro.
A primeira é o sujeito hermético e contraditório que foi Renato Russo: Um gênio da criação dos maiores que esse país já teve, mas com um ego destrutivo, uma dificuldade no trato social, dificuldade de se pronunciar mesmo sobre as coisas mais prosaicas. Renato era uma bomba pronta pra explodir, e parecia mesmo que queria era jogar o mundo pelos ares, a todo momento! Eu, particularmente, sempre tive muita angústia ao vê-lo se expressar. Como grande admirador, me causava espanto a forma confusa, sarcástica e provocativa de suas intervenções.
Embora haja um certo tom de mistério (nem sei se é essa a palavra) por trás da fala de Dado Villa Lobos, acho que por ali é um bom canal pra compreender mais sobre o mito de Renato e sua banda, a insuperável Legião Urbana. Quem ver o filme verá que Dado tem muito pra falar. Mas não fala. Acabou "dizendo tudo".
A outra é o subjugo às bandas dos anos 80 exercido pela Rede Globo - exploração que beirava as raias da criminalidade. O Nasi, vocalista do Ira, dia desses relatava um episódio em que abandonaram, ele e a banda, o Cassino do Chacrinha por causa das toquinhas de Papai Noel que tinham que usar. Disse ele mais ou menos assim:
"...As toquinhas não eram nem o mal maior, é uma m. mas a gente vai na onda, mas quando vimos um colega que se distraiu e entrou no palco sem a toca (acho que o Biafra) e o Chacrinha parou, e deu-lhe um esporro de fazer inveja a general, botamos a guitarra no saco, mandamos as tocas praquele lugar e fomos embora..."
No documentário,temos a chance de ver a confirmação disso, no impressionante depoimento de Fê Lemos (Capital Inicial) falando sobre a contrapartida absurda que a Globo cobrava dos artistas pelas participações no programa do Chacrinha. (vale a pena ir ao cinema conferir)
Caramba!,os caras eram roqueiros, jovens e sem grana; submetê-los a papéis ridículos e desnecessários e outros que colocavam em risco suas próprias vidas era, além de tremenda falta de sensibilidade artística, uma enorme irresponsabilidade.
Nesse sentido, torna-se alentadora e, talvez até redentora, a presença de Philippe Seabra na tela. Uma figura central que, quando ouvimos falar, deixando de lado grana, fama, mídia, etc _e compreendendo a essência daquele movimento no cenário conturbado onde surgiu; não deixa dúvidas de que a Plebe Rude merece com toda justiça o título de símbolo máximo do Rock de Brasília.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário