Paes alegou que não pode pedir folha corrida dos que recebe em seu gabinete para tratar de assuntos da cidade. E Freixo, presidente da CPI que desmantelou a máfia, indiciando 225 acusados (inclusive um ex-chefe de Polícia), argumentou que desconhecia a conexão do tal candidato com o ex-vereador Luiz André da Silva, preso por homicídio e justamente quem mais lhe fez ameaças de morte.
Portanto, mais do que denunciar a hipotética conivência dos dois candidatos com o crime, o que os episódios demonstram é como são insidiosos e sub-reptícios os membros dessa facção criminosa, capazes de se infiltrar numa reunião com o prefeito ou na chapa do partido que mais os combate.
Quando há quatro anos o antropólogo Luiz Eduardo Soares deu o alerta de que “o tráfico já era” e que as milícias constituíam algo mais pernicioso, ele foi criticado. Diziam que estava minimizando o real perigo representado pelo inimigo público número um da sociedade.
Era a época em que até autoridades consideravam os novos bandidos como “grupos comunitários de autodefesa”, “um mal menor e necessário”, uma espécie de antídoto contra o mal maior.
Foi preciso um filme de sucesso, o “Tropa de elite 2”, para o grande público descobrir que agindo nos morros e periferia do Rio existia algo tão nefasto quanto o tráfico: as milícias.
O antropólogo dizia que enquanto os traficantes são em geral jovens pobres que nunca saíram das favelas, os milicianos são “profissionais formados, treinados, com conhecimento técnico, com capacidade administrativa e financeira que se organizam para ocupar espaços políticos”.
Enquistadas no aparelho do Estado e difíceis de serem combatidas, extorquindo das comunidades milhões em serviços — gás, luz, TV, vans e, claro, drogas — as milícias são e continuam sendo, ao contrário do que se acreditava, perigosas forças paramilitares.
Mas, na verdade, acontecimentos como a chacina de Mesquita agora provam que em matéria de crime não há mal menor. Tráfico e milícias representam um mesmo mal maior: a barbárie.
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