segunda-feira, 2 de julho de 2012

Em defesa do futebol “chato”

Texto publicado originalmente no site:

http://www.viomundo.com.br/falatorio/adilson-filho-em-defesa-do-futebol-chato.html

Vitória da Espanha, derrota da Globo

Em 2010 a Globo se vestiu de vermelho e amarelo. Enalteceu o futebol espanhol até não poder mais — “aquilo sim era o verdadeiro futebol arte!” — enquanto descia a lenha e fazia a cabeça da massa contra a seleção brasileira. Era a manjada técnica do elogio instrumental: usavam a seleção espanhola para atingir Dunga, que, após alguns embates, chegou na Copa do Mundo como desafeto da Vênus Platinada.

Quando o time espanhol parou no “ferrolho-suiço” eles ficaram perdidinhos. É sempre assim, quando o ponto sai fora da curva, quando alguma coisa foge do que está ali programado pra encaixar nos argumentos, é a morte de uma imprensa fraca e golpista. Aí eles mostram toda sua contradição e incapacidade técnica de analisar o esporte. Depois a Espanha se recupera, vai lá e ganha a Copa. Deu pra ouvir o “ufa” daqui do Brasil.

Dois anos depois, essa mesma Espanha, esse mesmo time, já não serve mais. De futebol arte passou a ser chamado de futebol chato. De grandes jogadores a máquinas programadas e previsíveis. “Chato”, “enjoado” e “cansativo” foram os comentários mais ouvidos esses dias nas colunas esportivas. Os comentaristas globais, na hora do jogo, são mais Itália, um deles chega a dizer : “A Espanha é um grande time mas meu coração hoje é italiano”.

Luis Fernando Veríssimo, em sua crônica dominical matou parte da charada: inveja. Ele tem razão, a atual fase do futebol brasileiro — que vai mal das pernas, apesar das grandes promessas — faz com que muitos desdenhem a bola redonda que é jogada por outras escolas, entre elas, essa Espanha – duas vezes campeã da Eurocopa, atual campeã mundial e que possui os dois melhores times do mundo (base da seleção nacional).

A outra parte da charada está no lado “impublicável” da turma dos “bem amigos”. A Espanha tem a mesma formação, o mesmo time e joga essa mesma bola redonda há pelo menos cinco anos.Na África do Sul, virou menina dos olhos da Globo, mas foi só os seus interesses empresariais serem devidamente reestabelecidos –- na famosa ida de Ricardo Teixeira a mesa do Galvão Bueno no dia seguinte a grande final — para que, menos de dois anos depois, essa mesma equipe já não fosse mais “tão boa assim”, a ponto de chegar a ser rotulada como inventora do futebol-chato.

Pra variar é sempre tudo muito óbvio, os esforços agora estão concentrados em levantar o futebol brasileiro a qualquer custo, botar tudo nas costas do moleque moicano e ver o que vai dar.

Só que esqueceram de combinar com os russos, ou melhor com os espanhóis. O timaço liderado pelo craque Iniesta, com toque de bola envolvente , dá de goleada na Itália, e levanta o troféu da Euro-2012 — competição disputada em alto nível por grandes equipes.

Chato, realmente muito chato…

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