Hoje
completam-se trinta anos de um dos maiores traumas que o país do futebol já
viveu em sua história: A eliminação da seleção brasileira da Copa do Mundo de
82, que ficou conhecida como “A tragédia
do Sarriá”.
O escrete
canarinho saiu do Brasil carregando os sonhos de uma nação apaixonada por
futebol e, após ter encantado o mundo na
excursão a Europa no ano anterior, desembarcou na Espanha com a certeza de que
traria a taça do tetracampeonato na bagagem de volta.
A esperança
era altamente justificável, de fato tratava-se uma seleção com craques espetaculares e que jogava o
finíssimo da bola; só de lembrar me arrepio de saudades. Que geração de
ouro era aquela!
Porém, creio que seja válido levantar algumas questões que jamais conseguem ser tocadas sobre o Brasil de 82, pois a análise técnica e objetiva daquela equipe virou uma espécie de tabu no meio futebolístico; o que é perfeitamente compreensível já que as feridas do Sarriá foram profundas e permanecem até hoje.
A individualidade
de nossos atletas era inquestionável mas, infelizmente, naquele momento, nosso treinador não conseguiu dar consistência
ao grupo de modo a torná-lo “imbatível” como equipe, como deveria ser. Eu sei
que não era tarefa fácil, o Brasil tinha craques “caindo da árvore” na época;
como juntar tantos numa mesma equipe e botá-la pra“rodar” de forma organizada e coesa?
O treinador
fez as opções dele. No lugar de um zagueiro forte e marcador como Edinho, um
verdadeiro cão de guarda da mais fina linhagem, Telê optou por Luisinho, um
craque que jogava com elegância e que, hoje, seria camisa 10 e m qualquer time
do país. O meio campo é o lugar onde
isso fica mais claro. Batista era o melhor volante do Brasil na época, o rei da
cobertura, o sonho de consumo de qualquer zaga, mas a opção foi pelos craques
de jogo fino nas quatro posições, mesmo que Cerezo não se saísse tão bem assim
na proteção .
É bem verdade que já na preparação perdemos nosso grande
centroavante, o herdeiro de Tostão, o cracaço
Reinaldo, mas sua ausência, apesar de muito sentida, não foi o único
motivo da perda daquela Copa.
Telê Santana, dispunha de Roberto Dinamite, um
estupendo centroavante no auge de sua forma, mas optou por Serginho Chulapa
mesmo assim. Inclusive, Roberto só foi convocado porque Nunes estava machucado, segundo declaração do
próprio Telê em 1981.
Copa do
mundo são sete jogos e atenção máxima nos detalhes. No jogo contra a Itália tivemos
a chance de ouro de empatar, quando a bola sobra pra Serginho na cara do
veterano Zoffi, mas esse, com Zico ao seu lado, prefere bater pro gol e a bola
passa a quase um metro da trave direita, deixando o galinho louco da vida. Olha
o detalhe aí.
Desde o jogo
contra a União Soviética, na abertura, o Brasil mostrava algumas vulnerabilidades que jamais
foram corrigidas pelo técnico ao longo da competição. Os laterais subiam
indiscriminadamente, muitas vezes entrando pelo meio e deixando o famoso “queijo
suíço” que depois seria explorado pelos italianos principalmente pelo lado de
Junior.
Eram dois
craques, Junior e Leandro que, assim como o zagueiro do Atlético, seriam camisas 10 em qualquer time do Brasil,
mas precisavam ser orientados quanto a essa questão. Isso não há dúvidas.
Nesse jogo,
o Telê “entortou” o Dirceu pela direita e o nosso grande craque
"formiguinha" - não rendeu bem por aquele local onde Paulo Isidoro
sempre era aproveitado. A União Soviética abre o placar naquela infelicidade de
Valdir Peres, e pelas laterais super expostas os russos avançavam sem parar - vale lembrar que nessa partida tiveram um gol
legítimo anulado e um pênalti claro não marcado. O jogo estava muito complicado
para a seleção, mas na individualidade de nossos craques o Brasil vai lá vira o
jogo e vida que segue.
O
problema é que nenhuma lição foi tirada dali. Não se pode errar tanto
numa partida. Nosso goleiro, por exemplo, tinha que corrigir aquela mania
perigosa de se posicionar na linha da pequena área (mais tarde isso iria
comprometer). Contra a Argentina, Maradona quase pega ele adiantado e contra
Itália se estivesse melhor colocado poderia sim ter chances de defender uma daquelas bolas de Rossi.
Dizem que um bom time começa por um goleiro e um
grande centroavante. Valdir Perez e Serginho Chulapa, infelizmente não puderam
confirmar isso naquela oportunidade.
Depois vieram os jogos contra as fracas seleções de
Nova Zelândia e Escócia e aí, o Brasil deitou e rolou, encantou como era o que
se esperava daqueles jogadores
magníficos.
O jogo contra a Argentina foi o mais tenso.
Maradona quase pega Valdir Peres adiantado e marca...Num outro lance, “rodopia”
pra cima do Junior, entra na área e sofre um pênalti que, se marcado, poderia
nos complicar..Depois perde a cabeça e é expulso, um jogo duro, e o Brasil
ganha na bola e na raça, mostrando toda a capacidade daqueles craques, mesmo no
jogo pegado.
Porém, o que também chamou a atenção foi a forma
como os erros aconteciam. Iguaizinhos ao da partida de estreia. Numa desatenção
da zaga, a bola é literalmente entregue nos pés de Ramon Dias (isso viria a
acontecer com Cerezo no jogo fatídico do Sarriá). Esse mesmo Ramon Dias que,
assim como Maradona, havia tentado encobrir Valdir Peres em jogada anterior,
desta vez marca.
O jogo contra a Itália é o mais famoso e todos já estamos
carecas de saber, ver e rever... mas acho que vale a pena lembrar que o que
aconteceu ali não foi uma tragédia, mas sim uma derrota normal que, infelizmente, já vinha se anunciando
(como possibilidade) de alguma forma. A derrota de um time cerebral que, apesar
de ter craques excepcionais,
apresentava vulnerabilidades e nenhuma delas era corrigida pelo treinador.
Nesse dia 5
de julho de 1982, nossa seleção jogava pelo empate, e chegamos a fazer o
resultado durante a partida. Pelo menos ali era hora de ver o dedo do técnico.
Nada. Depois tomamos a virada e o que víamos era Telê mastigando chiclete no
banco sem sequer orientar a equipe, ele mal gasta a sua segunda substituição.
Os três gols
de Paulo Rossi contaram com nossa “contribuição”, em falhas que vinham se
repetindo: A subida indiscriminada de Junior, a falta de marcação pelo lado
esquerdo que poderia ser corrigida, a desatenção na saída de bola e o posicionamento
adiantado do nosso goleiro...Mesmo
assim, o time era tão bom, tão maravilhoso, que vai lá e faz dois gols, mas não
foi o suficiente.
Essa
historia que o Brasil jogaria 10 vezes com Itália e ganharia 9 não é bem assim,
por favor, precisamos ser menos apaixonados . Nunca nos esqueçamos do gol
legitimo de Antognoni que o juiz, sabe-se lá porque, anulou. Do outro lado
havia também uma grande seleção, que errou menos e aproveitou as falhas do
adversário em sua totalidade, o que é fundamental numa partida de futebol,
principalmente numa Copa do Mundo.
O Brasil de 82 foi uma seleção que provavelmente
jamais veremos igual, composta por craques talentosíssimos que encantaram o
mundo com seu toque de bola; mas com
falhas graves que jamais foram corrigidas e que, numa competição de tiro curto
e de atenção máxima como a Copa do Mundo, a qualquer momento podem se tornar fatais.
A falha era simples..não h avia o "cão de guarda" no meio....o meio de campo não marcava ninguém..
ResponderExcluirO problema era o frangueiro do Valdir Perez no gol e o FRACO Serginho chulapa na frente do ataque. Ah se Leão fosse o goleiro! Ah se Roberto Dinamite fosse o Centroavante!
ExcluirFaltava um ponta direita também e um volante de marcação como o Batista que também tinha categoria sobrando. Faltou Rubens Mineli ou Zagalo!
ExcluirA teimosia de um técnico, nos tirou o campeonato.
ResponderExcluirFaltou Batista e Roberto no time.
Mauro
Das enormes falhas do mestre* Tele Santana, as principais foram a mudança do esquema de jogo um mes antes da copa do 4-3-3 para o 4-4-2 com a entrada de Falcão, deixando o time lento na saída, sem entrosamento e com fragilidade do lado direito. Além disto, a não convocação de Reinaldo( que não estava machucado), Nunes, Adílio, Leão e Raul. SEm falar ter deixado Dinamite que nunca perdeu um jogo na seleção nas 21 partidas que entrou do lado de Zico na reserva. Batista de volante resolveria metade dos problemas do time. Mas o mestre...
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