Relembrando o texto publicado no Luis Nassif:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/homenagem-a-13-de-maio
Em 1988, ano em
que se comemorava o centenário da abolição da escravidão no Brasil, a Vila
Isabel vencia o carnaval na Marquês de Sapucaí com uma bonita homenagem ao
herói abolicionista Zumbi dos Palmares. Nesse mesmo ano, a Mangueira levava
para avenida em tom de louvor e denúncia aquela considerada por muitos a mais
bela entre as mais belas de suas inúmeras composições:
"Será que já raiou a liberdade ou se foi
tudo ilusão? Será que a Lei áurea tão sonhada e há tanto tempo assinada, não
foi o fim da escravidão? Hoje, dentro da realidade onde está a liberdade, onde
está que ninguém viu? Moço não se esqueça que o negro também construiu as
riquezas do nosso Brasil.."
Era nossa festa
popular de maior expressão trazendo a baila uma importante questão: A grave
situação vivida pelo negro após a abolição da escravatura, o que alguns
historiadores denominaram "liberdade vazia" – pois os meios
necessários para sua inserção social não lhes fora apresentados com clareza, e
estão sendo conquistados até os dias de hoje, na raça e na coragem.
"...Pergunte ao criador quem pintou esta
aquarela, livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela" _ Assim prosseguia o
samba da Estação Primeira, pisando forte na avenida pra tentar mostrar ao
Brasil que aquele que também ajudou a construir essa nação não pode viver
marginalizado, residindo em guetos e favelas, "sutilmente" segregado
do resto da população.
Hoje, passadas
mais de duas décadas é possível perceber que, apesar da situação ainda ser
preocupante, o quadro da desigualdade racial no Brasil apresenta sensíveis
sinais de melhora. A semente plantada por Zumbi finalmente cresceu e já começa
a sazonar seus frutos. O negro mais uma vez na história chamou pra si a
'responsa' e cada vez mais percebe-se como sujeito dessa transformação, numa
luta de igual teor de bravura só que agora no plano ideológico - impulsionando
ações afirmativas importantíssimas e, de forma ousada, fazendo acontecer.
Assim como
Anastácia não se deixou escravizar, milhares de cidadãos brasileiros de uns
tempos pra cá, duvidaram dessa conversa mole de que "não somos
racistas"e além de reconhecerem a luta que vem enfrentando nessa
"gigantesca Casa Grande chamada Brasil" cada vez mais arregaçam suas
mangas pra cobrar o que é seu por direito.
Quando naquele
ano comemorativo Jamelão cantava em verso e prosa o sonho da volta de Zumbi dos
Palmares, do fim do sofrimento de uma raça, e chamava isso de "uma nova
redenção" (..sonhei que Zumbi dos Palmares voltou, a tristeza do negro
acabou foi uma nova redenção..) parecia mesmo estar pressagiando um novo
período na história brasileira - já que o espírito de luta de Zumbi se faria
presente em cada lar, em cada organização, em cada esquina, na favela ou no
Congresso, na tv ou no cinema, no sinal ou na universidade, no dia-a-dia de
bravura e conquistas de cada negro desse país.
Valeu Zumbi,
seu grito forte dos Palmares já ecoa pelos quatro cantos de um novo Brasil que
nasce, chacoalhando as bases de uma sociedade onde um dia (de verdade) a cor da
pele não determinará absolutamente mais nada, um dia onde estaremos de fato
juntos e misturados, o dia onde estas minhas palavras perderão todo sentido. E
neste dia poderemos encher o peito e dizer: Somos todos cidadãos brasileiros.
E naquele 1988,
naquele último dia de carnaval, o memorável samba da Estação Primeira,
supra-sumo da mais bela poesia vinda da garganta de Jamelão, amanhecia a cidade
de maneira alegre e festiva, como não poderia deixar de ser:
"O negro samba, negro joga capoeira, ele é
o rei na verde e rosa da Mangueira!"
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