quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Brasil, democracia e Justiça!

Condenar a qualquer custo passando por cima das leis não é justiça, mas justiçamento. Os embargos infringentes são uma garantia constitucional ao amplo direito de defesa de qualquer cidadão e não um “benefício” para quadrilheiros sujos como a mídia, ardilosamente, tentou fazer as pessoas crerem.

Que aqueles que cometeram qualquer delito sejam responsabilizados por isso dentro dos rigores máximos e implacáveis da lei; mas que a justiça seja feita preservando os direitos da pessoa humana até o último momento, acima de tudo, é isso que devemos esperar.
Por um julgamento justo e não um tribunal medieval. Esse é um daqueles momentos dificílimos em que  a vida nos pede que examinemos demoradamente  a nossa consciência,  pois não podemos deixar que a nossa vontade (tenha ela a motivação que tiver) de ver políticos acusados de corrupção atrás das grades ultrapasse jamais a responsabilidade que temos com aquilo que proferimos sobre o destino de vidas alheias. 

Como lembrou muito bem o Ministro Luis Roberto Barroso, estamos falando de seres humanos, de pessoas que tem famílias e não de “símbolos”, de meras fotografias que viram charges nos jornais e abarrotam as redes sociais no dia seguinte. Por favor, vamos ter equilíbrio nesse momento e não se deixar levar pela catarse das multidões. Marco Aurélio de Mello, protagonizou um dos momentos mais indignos (não há outra palavra) da história do STF quando disse que esse deveria atentar o clamor das multidões. Primeiro que não se pode confundir o clamor popular com a visão de meia dúzia de famílias que controlam os meios de comunicação no Brasil, e muito menos com um segmento bem específico que utiliza o Facebook e os Twitter para reproduzir essa visão. E, ainda há que se lembrar que multidões virulentas também se equivocam,  pois foi gritando ensandecidamente em praça pública que o povo pediu a soltura de Barrabás e condenou a crucificação (para o usar o termo da Veja semanal) a gente sabe muito bem quem.
Ora, precisamos com urgência retomar o último resíduo de racionalidade que a Revolução Francesa pôde nos legar. Não estamos em tempos bíblicos onde pessoas eram apedrejadas nas ruas antes mesmo de serem julgadas, também não estamos mais nos tempos medievais onde se condenava pessoas ao enforcamento em praça pública. Em tempos de disseminação da informação nas redes sociais, é a nossa palavra que fere, mata e aniquila. Precisamos estar atentos, observar as nossas ações, ter cuidado extremo com o que proferimos para não sermos hoje o que muitos foram no passado.  A cada tempo histórico, a sua responsabilidade.

Um pouquinho de humildade nunca é demais, da sabedoria socrática - esta que nos livra da arrogância açodada queenvenena as relações sociais e compromete uma vida social mais justa e equilibrada. Estamos falando de um julgamento repleto de excepcionalidades e de distorções jurídicas talvez nunca antes vistas, com um juiz de perfil autoritário sobre o qual pesam denúncias graves que ainda estão a se explicar. Um julgamento cercado por muito mais dúvidas do que certezas, que divide o meio jurídico e que pode até ira parar em cortes internacionais tamanha a controvérsia e heterodoxia transcorrida no meio do processo.
O linchamento é uma coisa abominável em qualquer coletividade humana,  mas, se for inevitável, se o sentimento inquisitorial se fizer dominante, que tenhamos a serenidade mínima de esperar pelo menos o final do processo, a derradeira sentença sobre o destino de cada pessoa, antes de fazê-lo.

Por enquanto, enquanto o martelo não tocar definitivamente na mesa do Supremo Tribunal Federal Brasileiro,  gritar contra um direito garantido até por convenções internacionais, nos coloca na condição de colaboradores daqueles que atentam contra a dignidade inalienável da pessoa humana.

E nesse sentido nunca é demais aprender com a História, já dizia o velho Marx. Mais uma vez, creio que devemos examinar a nós mesmos para ver o que nos move quando clamamos exaustivamente contra a corrupção e pela moralidade. Lembremos que foi esse grito incontrolável de uma determinada elite atiçada as ruas pela imprensa, que produziu a "Marcha pela família e pela moral do Brasil" que ajudou a construir uma ditadura de 21 anos que a tantas famílias fez sofrer e tanto mal fez ao país. Será que estamos tendo o mesmo sentimento de indignação quando o STF, ignorando um tratado internacional deixa de julgar os torturadores daquele período, por exemplo? Ou com a atitude xenófoba de alguns de nossos médicos? Ou com as desigualdades gritantes que ainda persistem no Brasil?

Sejamos sensatos nesse momento tão importante da nossa História. Não julguemos antes, não sejamos como os insanos atiradores de pedra, ou os que vociferavam diante da forca. Tenhamos responsabilidade com aquilo que passamos adiante nos bares, nas mesas e nos canais dos quais dispomos. Para combater a monstruosidade não precisamos nos transformar em monstros" (Nietzshe). Que se faça justiça, mas que se preserve antes de tudo a vida em seu sentido mais amplo possível e imaginável. 

2 comentários:

  1. Fora que se você perguntar para as próprias pessoas que condenam de forma voraz o mensalão o que vem a ser, própriamente dita, a AP 470, elas não sabem responder... só falam, totalmente manipuladas e sem reconhecer isso, que é roubalheira do PT...hehehehehehe... impressionante !!!

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