terça-feira, 1 de julho de 2014

Copa traz a tona velha discussão sobre futebol arte

"Eu acho inacreditável que, em pleno ano 2014, ainda haja esse pensamento antiquado que pensa o futebol como um espetáculo circense. O futebol não tem essa finalidade, é um esporte, praticado por atletas, não tem que agradar os olhos de jornalistas saudosos e nem a obrigação de fazer alegria do torcedor que quer ver um show. O futebol, como qualquer outro esporte, é um jogo feito pra vencer e ponto. Pergunte aos jogadores lá dentro, pergunte aos treinadores se eles trabalham nessa perspectiva. Principalmente num torneio de 'tiro curto' como a Copa do Mundo. 


Há  um senso comum, gerado pela mídia esportiva, que acostumou o torcedor a tratar uma partida de futebol como se trata uma obra de arte. Jogou "bem", jogou "mal", o futebol tá "bonito", ou tá "feio", etc. O que tem que ser levado em conta antes de mais nada, numa equipe de futebol que vai disputar uma competição é:

- A organização tática. A forma como esse time se posta em campo. O padrão de jogo da equipe. Você precisa olhar pro time e enxergar um modo de jogar, um estilo, alguma forma de organização mínima. Isso faz com o que o time tenha a segurança necessária para impor seu jogo em campo. 

-A regularidade. Não basta ter uma forma e um padrão mínimo definido é preciso botar pra rodar, ter sequência, ir tomando corpo.

-  A compactação. É na aproximação das linhas que se diminui a vulnerabilidade. Um time compactado, como bem observou Veríssimo sobre a França, não deixa espaços, não deixa o famoso "queijo suíço " entre meio campo, defesa e ataque. Só uma equipe coesa tem condições de fazer a bola girar, ou mesmo de organizar contra-ataques. De nada adianta "matar a bola sete",  se não souber também observar onde está "caindo a bola branca". Isso tudo precisa estar muito bem afinado ali no campo. 

Depois do preparo físico e psicológico, essas três coisas são básicas, para  se dizer: Esse time está minimamente pronto para competir. Pode perder aqui, se recuperar depois, sacudir a roseira acolá, mas será sempre o mesmo, oscilará muito pouco.. Pode ter um craque, não ter, jogar com dois, três zagueiros, sem centroavante, tanto faz, o que importa é que está organizado e tem condições mínimas de pleitear o seu objetivo máximo. O resto , por mais importante que seja também, vem na sequência.

A seleção brasileira não tem nada disso. Ela simplesmente não tem a espinha dorsal de uma equipe de futebol. É isso que precisa ser analisado, é essa a crítica o resto é torcida, palpite e esparrelas dos eternos corneteiros e  "analistas do depois" .

Eu digo isso, pois acho incrível observar como os argumentos sobre o destino da seleção brasileira já vão começando a tomar corpo na grande mídia. As justificativas da vitória e da derrota já estão prontas. A da vitória vai pelo caminho de que não tem nenhuma seleção muito acima da média e o Brasil, mesmo jogando um futebol pro gasto, pode chegar lá. A da derrota, é essa que o treinador já começa a sutilmente(ou seria espertamente?) a vender, que o fator emocional pesou sobremaneira numa equipe de "meninos".

Tudo não passa de um grande teatro, de uma grande bobagem. Acho que o Brasil pode sim chegar lá; embora a essa altura dificilmente vá achar algum jogo, mas pode funcionar, na base da retranca, pois tem boa defesa, tem um craque que pode decidir, ou mesmo no improviso ali do momento,; no futebol meu amigo, nunca é bom desprezar nada.

Por isso, a crítica não deve ser em cima da possibilidade ou não de se chegar ao  título, mas sim da preparação que ofereça a devida segurança no caminho. A preparação da seleção brasileira de futebol é um desastre. É ela que deve ser questionada.

ps: Se o Brasil for campeão jogando a sua bola dessa forma até o final - salvo pela trave, pelo gongo, ou por tudo o mais que não seja sujo-  terá sim os méritos de um campeão mesmo que não tenha sido devidamente preparado por quem teve essa responsabilidade.