terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quem bateu em João Vitor?

João Vitor, jogador do Palmeiras, foi agredido com paus, socos e pontapés no rosto por cerca de 15 torcedores na tarde desta terça–feira na capital paulista. O atleta chegou a ir parar no hospital de tanto que apanhou, mesmo quando estava jogado no chão sem poder de reação.

Mais um episódio lamentável de violência que merece ser tratado com todo rigor, conferindo a esses marginais as penas cabíveis na lei. Mas a pergunta que se faz nesse momento é: De onde vem tanta ira, tanta sede de sangue? O que faz pessoas que torcem para um clube se exaltarem a ponto de cometerem até assassinatos?

Sabemos que não é preciso ir muito longe para encontrar a resposta, ela está entre nós, no modelo de vida que escolhemos caminhar enquanto sociedade, na violência inata do ser humano, num esporte que cada vez fica mais mercantilizado, envolto em corrupção, onde o presidente da CBF tira sarro dos cidadãos de bem esnobando (ou c...) de montão, onde o locutor mais famoso do canal mais famoso comemora efusiva e grotescamente uma derrota da Argentina enquanto a “sua” seleção apanha em campo, um esporte onde o que vale cada vez mais é ganhar, ganhar e ganhar a qualquer preço.

Tudo isso sabemos, mas gostaria de trazer a lembrança um fato, que coincidentemente aconteceu na mesma Instituição que agora sofre esse ataque triste e inqualificável. Em janeiro desse ano, o fotógrafo Thiago Vieira, que prestava serviço para o jornal Agora São Paulo, foi agredido com socos e expulso do clube, na marra, por três conselheiros do Palmeiras, inclusive o ex-diretor de futebol Wlademir Pescarmona, por causa (vocês lembram?) de um post no Twitter - cobrindo as eleições no clube chamou os palmeirenses de porcos na rede social. Não ficou só aí, Veira seria ainda demitido (!) do jornal por ter “ ofendido” o clube pelo microblog.

Na ocasião, a imprensa esportiva da Globo, a mesma que bradou pela liberdade de expressão e se voltou contra Dunga na Copa do Mundo, em sua reunião semanal “de bem amigos” não fez um gesto, não proferiu uma fala, nada, nenhum sinal sequer de repúdio a mordaça imposta ao repórter e a violência física e moral sofrida pelo colega, nada.

Muito pelo contrário. Alexandre Garcia, convidado ilustre do programa Arena SporTV daquele dia teve a ousadia (é essa a palavra certa?) de dizer que “ essas pessoas covardemente se escondem atrás do seu twitter por não terem coragem de falar o que pensam”.

Vejamos então: Um jornalista, um trabalhador, talvez pai de família, é agredido por fazer uma brincadeira com um clube associando-o ao animal que é conhecido (inclusive assim declara sua torcida na arquibancada), apanha de mais de um, é xingado , humilhado tratado como um pária , perde seu emprego e seus colegas de profissão, no lugar de defender o direito a livre expressão e repudiar veementemente a violência, fazem o oposto, condenam sua conduta.

Ou seja, as favas com a liberdade de imprensa. E mais do que isso, dane-se a violência, afinal o incauto repórter “vacilou”, quem mandou cantar de galo na casa do porco? “Ali o coro come mermo..”

É esse recado que o silêncio de uma parte da imprensa, e a contradição e complacência de outra parte estava dando para todas as pessoas que acompanham futebol, incluindo jovens, estudantes, torcedores de organizadas etc. Vale tudo inclusive porrada quando mexem com a nossa paixão.

Pois agora está aí, um jovem jogador agredido gratuitamente quando ía comprar camisas no clube onde pratica o seu esporte e ganha o seu pão. Afinal, quem bateu em João Vitor? Foram só mesmo essa meia dúzia de deserdados sociais que, infelizmente, falemos a verdade, já não juntam o “lé” com o “cré” há muito tempo? Acho que vale a reflexão.

O saudoso Januário de Oliveira, nas tardes de domingo da antiga TVE, tinha o hábito de dizer : “ Tá láaaaa o cooorpo estendiiiiido no chão, sempre depois de uma falta mais ríspida em cima do jogador adversário. Felizes os tempos onde o chão era o gramado e ao lado do “corpo” havia uma mão estendida.

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